Feliz PRESÉPIO !

Feliz Presépio!

Centro Franciscano de Espiritualidade- Piracicaba – 1995
Frei José Carlos Corrêa Pedroso, OFM Cap.

 

Neste ano em vez de lhes desejar Feliz Natal! Estou lhe desejando Feliz Presépio!
Estou desejando que você mesmo faça o seu Natal, fazendo o presépio.
Você pode até arranjar um recanto bonito em sua casa pra montar um presépio de verdade, mas eu estou falando é de um presépio que você pode montar dentro de você, só de sonhar.
Estou falando de um sonho de acordado quando a gente pode imaginar tudo eu seria bom que houvesse em nosso mundo.
Mas não estou pedindo que você sonhe para esquecer que a realidade é dura: eu o estou animando a sonhar com a realidade que é possível construir com o seu coração e com as suas mãos.
Você sempre sonhou. Todo mundo que vive sempre sonha… É assim que a gente vai caminhando perseguindo sonho. O meu é para você aproveitar o Natal e sonhar concreto para ter uma visão de conjunto e avaliar a vida eu está vivendo… para retomá-la com vigor.
Ponha o riozinho aí no presépio. Faça-o brotar lá naquelas montanhas e ir abrindo caminho até o vale… lá para adiante ele vai chegar ao mar. Sonhe esse rio representando a sua vida até ela se perder no infinito.
Vai ficar bonito você colocar uma pontezinha em cima do rio. Vai mostrar que você não se deixa vencer pela torrente e pode dominar os obstáculos.
Em cima da ponte, pode ir uma pastora pequenina para ficar olhando os patinhos, peixinhos e as dobrinhas da água que vai marulhando e dobrando os caniços da margem…
Quanta coisa tem lá dentro de você!
O presépio é como um jardim: tem montanhas, rios, árvores, pastagens… é até mais do que um jardim, porque tem tantas figurinhas humanas. e de toda natureza.
É importante a gente cultivar, lá dentro da gente, essa presença da natureza: nós vivemos em um mundo maravilhoso de Deus onde são nossos irmãos todos os seres.
Até nós percebemos que somos parte desse conjunto, somos alguns desses seres. 
Durante milênios, fomos mais ou menos como todos eles. Só bem devagar fomos capazes de chegar à plenitude doo humano que atingimos hoje: e que ainda pode mais.
Nossa consciência de humanos foi crescendo devagarinho: começamos a perceber que existíamos que havia muita vida ao nosso redor. Tanta coisa acontecendo. Não sabíamos por quê. 
Mas nós as vivíamos. Alegrando-nos ou sofrendo. Imaginemos que consciência uma flor tem do mundo em que ela vive.
Que consciência te, por exemplo, um cachorro?
Reconhece os semelhantes. Sabe que os gatos são pra correr atrás, gosta de carne, e de ossos. Festeja os amigos, tenta morder os que acha que o ameaçam. Mas não sabe nem de ontem nem de amanhã. Nem distingue o mundo ao seu redor do mundo que está dentro dele.
Houve uma época em que começamos a conseguir explicar o nosso mundo. E começamos a contar historinhas em que as coisas que acontecem foram virando gente como nós. Pelo menos a gente ficou sabendo o que seria bom fazer. Eram historinhas interessantes. Todo mundo gostou delas, passou adiante, melhorou um pouco. São os mitos.
As historinhas não precisavam contar tudo. Fomos ficando objetivos no reconhecimento de onde começa e onde acaba cada coisa, cada ser. Fomos criando a noção de espaço, depois a de tempo.
Quando conseguimos situar uma coisa ou um ser no espaço e no tempo, nós o definimos. O que está definido está perfeitamente distinguido de nós mesmos. E pode ser por nós possuído.
Quanto mais coisas nós possuímos, mais nos tornamos poderosos e podemos nos impor e os outros têm que reconhecer nosso valor.
No sonho de Deus, as coisas são um pouco diferentes: não é preciso ser dono de nada, porque nós somos os filhos do dono. Não é preciso mandar em ninguém, porque governar é um serviço para o bem de todos. Nem é preciso buscar reconhecimento porque Deus nos ama muito especialmente.
Você vai me dizer para olhar esse presépio e perceber que já está cheio de figurinhas, de plantas e mesmo de cortes nas montanhas, porque totó mundo se acha no direito de colocar aí tudo que bem entende.
Olhe eu lhe diria para não se assustar tanto com tudo isso eu você está vendo por aí. Ou melhor, preste atenção para ver eu eles também, os outros ficam frustrados muitas vezes…
Repare melhor que muitas dessas figurinhas muitas dessas reformas são mesmo inacabadas: são os sonhos dos outros, que também não conseguiram chegar a ser realidade completa.
Será que não podíamos pensar em sonhar juntos colaborando?
Para isso, precisaríamos conhecer os sonhos uns dos outros…
E quem quer ouvir os meus sonhos?
Comece a ouvir você o sonho dos outros… ou a tentar entender…
A gente pode entender, nesse presépio, até os “sonhos” dos animais, das plantas… do mar, dos rios, da lua… e dos outros mundos lá do espaço.
Tudo isso, parece incrível, está dentro de um sonho comum.
Como seria o sonho da planta. Planta sonha?
Eu acho que sim. Lá do jeito dela, ela sabe que vai germinar. Vai soltar brotos, firmar os ramos, deslumbrar-se com as flores, acolher as abelhas, festejar os frutos, jogar na terra as sementes… e ver nascer as plantinhas novas, espreguiçando, curiosas, as suas primeiras folhinhas…
Sonho é desejo. Trabalhe os seus desejos. Não tenha medo de desejar. Procure enxergar com clareza o eu é que você deseja. Tenha segurança para se abrir para os desejos dos outros.
Dê uma abertura para entender e acolher os desejos de Deus: o imenso desejo do amor.
Se você conseguir representar fora os seus desejos, vai ser mais fácil realiza-los. Vai ser possível enxergá-los no contexto dos desejos dos outros, em perpétuo contraste com os desejos dos outros. Sonho é utopia: é o que queremos e podemos fazer.
Em parte, os desejos são recordações: as coisas bonitas ou gostosas que a gente conheceu na infância, teve vontade, mas não conseguia agarrar com as mãos. O grande sonho é aquela visão instantânea e fugidia de um mundo espetacularmente maravilhoso que a gente vislumbrou, mas escapou das mãos…
Eu sonho, por exemplo, com pessoas sem doenças, sem ignorâncias, sem ódios, sem injustiças. Com contrastes, mas sem destruições absurdas. Um mundo sem sequestros, sem assaltos, sem roubos e assassínios. É claro que eu tenho que me indignar muitas vezes. E fazer ouvir essa minha indignação.
A utopia de Deus: que todos sejam irmãos. Uma só família, um povo. Pra sempre.
Utopia de Deus: que todos possam gozar todos os bens, sem nunca ficar entupidos pelos primeiros que passaram e eles agarraram.
Utopia de Deus; que todos possam trabalhar, isto é, realizar seus sonhos. Executar o que pensaram.
Você sonha com segurança? Ponha aí.
Você gostaria de ter amor? Ponha aí.
Você quer paz? Ponha aí.
Quer dinheiro, quer viajar, quer filhos, quer pais, quer realização, quer compreensão? Ponha aí.
Repare que todo presépio tem uma gruta. Vá chegando perto. Foi daí que você saiu. Olhe lá dentro, você ainda está, bem pequenininho.
Levante-se da palha e venha ver o rosto que está aqui fora
Entre no presépio de Deus.
Vá descobrindo tudo que aconteceu. O que foi eu Deus colocou e deu certo. Também o que parece que não deu certo.
Deus já montou o começo do seu presépio. E está convidando você a ajudá-lo a montar o presépio dele com todas as outras criaturas. Monte aqui. Sonhe. E vá realizar lá fora. Realize no Natal e sempre. O ano inteiro… a vida inteira. Até voltar para a caverna da Mãe terra, de onde você nasceu, quando chegar o dia de nascer no presépio de Deus, que começa aqui e continua no sempre, no sem limites.
Esse menininho no meio de pais pobres, entre o boi e o burro, deitado na palha cercado de pastores pobrezinhos e deslumbrados é o começo do sonho de Deus, que nunca mais vai ter fim.
Neste Natal, quero convidar você a ficar diante do presépio, calado, descansando e sonhando..