O que é a campanha da Fraternidade 2023

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Campanha da Fraternidade 2023

“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt. 14,16)

 

 

 

O que é a Campanha da Fraternidade?

 

A Campanha da Fraternidade nasceu por iniciativa de Dom Eugênio de Araújo Sales, em Nísia Floresta, Arquidiocese de Natal, RN, como expressão da caridade e da solidariedade em favor da dignidade da pessoa humana, dos filhos e filhas de Deus.

Assumida pelas Igrejas Particulares da Igreja no Brasil, a Campanha da Fraternidade tornou-se expressão de comunhão, conversão e partilha. Comunhão na busca de construir uma verdadeira fraternidade; conversão na tentativa de deixar-se transformar pela vida fecundada pelo Evangelho; partilha como visibilização do Reino de Deus que recorda a ação da fé, o esforço do amor, a constância na esperança em Cristo Jesus (Cf. 1Ts 1,3).

A Campanha da Fraternidade tem hoje os seguintes objetivos permanentes:

  • – Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
  • – Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
  • – Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.

A coleta da Campanha realizada como um dos gestos concretos de conversão quaresmal tem realizado um bem imenso no cuidado para com os pobres.

Ao percorrermos o itinerário da Campanha que nossos irmãos nos prepararam, possamos continuar seguindo Cristo, caminho, verdade e vida (Cf. Jo 14,6).

 

 

Campanha da Fraternidade 2023

 

Tema: Fraternidade e Fome

 

Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt. 14,16)

 

Objetivo Geral: Sensibilizar a sociedade e a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo.

Itinerário quaresmal diário para uma reflexão sobre a fome e sobre o caminho que Jesus nos ensinou para o fim dela

(40 trechos para reflexão diária)

 

1.   Oração da Campanha da Fraternidade 2023

Pai de bondade,

ao ver a multidão faminta,

vosso Filho encheu-se de compaixão, abençoou, repartiu os cinco pães e dois peixes e nos ensinou: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Confiantes na ação do Espírito Santo,

vos pedimos:

inspirai-nos o sonho de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz;

ajudai-nos a promover uma sociedade mais solidária, sem fome, pobreza, violência e guerra;

livrai-nos do pecado da indiferença com a vida.

Que Maria, nossa mãe, interceda por nós

para acolhermos Jesus Cristo em cada pessoa, sobretudo nos abandonados, esquecidos e famintos. Amém

 

 

  1. Passagem Bíblica que ilumina a Campanha da Fraternidade 2023: “E, Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus E, sendo chegada a tarde, os seus discípulos aproximaram-se dele, dizendo: o lugar é deserto, e a hora é já avançada; despede a multidão, para que vão pelas aldeias, e comprem

 

comida para si. Jesus, porém, lhes disse: Não é mister que vão; dai-lhes vós de comer. Então eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes. E ele disse: Trazei-mos aqui. E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos à multidão. E comeram todos, e saciaram-se; e levantaram dos pedaços, que sobejaram, doze alcofas cheias. E os que comeram foram quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças.” (Mt. 14, 14-21)

  1. “Se eu tenho fome, o problema é Se meu irmão tem fome, o problema é nosso.” (Dom Helder Câmara)

 

  1. A fome, bem sabemos, é um ato de preservação. É um sinal para que não nos distraiam quando nosso organismo sente falta do necessário para O que ocorre, porém, quando o alimento não chega a todo ser humano? O que faz uma sociedade ter filhos e filhas a quem, embora busquem, clamem, gritem e chorem, não chega o alimento? Por isso, a fome é também um desafio social, humanitário, uma situação que não se pode deixar de enfrentar, pois a fome de uns – a fome de uma só pessoa! – onera a todos nós, onera a sociedade inteira. Cada ser humano que não encontra o necessário para se alimentar é, em si, um questionamento a respeito dos rumos que estamos dando a nós mesmos e à nossa sociedade. A fome é um dos resultados mais cruéis da desigualdade. Afeta inicialmente os mais necessitados. Atinge, contudo, a todos, diz respeito à sociedade inteira. Esta é a razão pela qual o Papa Francisco, sem rodeios, afirma que “não há democracia se existe fome” (Mensagem da CNBB sobre a Campanha da Fraternidade 2023. Fonte: site Franciscanos.org)

 

 

  1. “Na sociedade humana, a fome é uma tragédia, um escândalo, é a negação da própria existência. Na verdade, o alimento para o ser humano não constitui somente uma necessidade natural, mas representa ainda um

 

fator cultural, porque é veículo de relações entre as pessoas, é um princípio de aliança e de comunhão’ ” (CF 2023, Texto Base, n.5).

 

 

  1. A Campanha da Fraternidade 2023 tem como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), sendo esta a terceira vez que a Igreja Católica do Brasil apresenta a temática da A primeira foi em 1975 com o lema: “Repartir o pão” (At 2,46) e a segunda em 1985 com o lema: “Pão para quem tem fome” (Pr 25,21).

A ordem de Jesus “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) parecia impossível de ser executada. Mas quando os discípulos colocaram o pouco alimento que tinham – cinco pães e dois peixes – à disposição de todos, ninguém voltou para casa faminto. Assim, o lema da Campanha da Fraternidade 2023 oferece-nos uma reflexão, à luz do Evangelho, de como podemos resolver ou amenizar a problemática da fome em nosso país.

 

Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra. A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. […] Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se- -ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos. (PAPA FRANCISCO. Discurso aos Movimentos Sociais, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, em 09/07/2015)

 

 

  1. “Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte, é provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento dos

 

conflitos em várias regiões do planeta. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos” (CF 2023, Texto Base n.6).

 

  1. “A fome é repudiada por afrontar direta e imediatamente todos os princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja (DSI), destacando-se aquele da destinação universal dos bens, (…) Assim sendo, o uso egoísta e exclusivista das riquezas, esquecendo-se dos irmãos, não é compatível com a fé cristã” (…). Não reconhece de forma prática a dignidade integral das pessoas, não considera a primazia do bem comum como o conjunto de todos os bens necessários para cada pessoa se realizar humanamente, além de gerar toda uma conjuntura que faz com que a pessoa em situação de fome esteja em menores condições de participação, (…) correndo o risco de reduzir a solidariedade ao assistencialismo” (CF 2023, Texto Base 7).

 

  1. “A fome ameaça não só a vida das pessoas, mas também a sua dignidade. Uma carência grave e prolongada de alimentação provoca a debilidade do organismo, a apatia, a perda do sentido social, a indiferença e, por vezes, a hostilidade em relação aos mais frágeis: em particular as crianças e os idosos” (62) Historicamente, a fome é um dos maiores destruidores da família, pois a desestabiliza e desestrutura, obrigando à separação por meio da migração forçada pela necessidade; gera violência doméstica, violência no campo e na cidade e leva à perda do sentido da vida. (CF 2023, Texto Base, 67 e 62)

 

  1. Dos 211,7 milhões de brasileiros e brasileiras, 125,2 milhões convivem com alguma Insegurança Alimentar (leve, moderada ou grave), dentre os quais mais de 33 milhões de pessoas enfrentam a fome em nosso País. “Como falar de Casa Comum se muitos habitantes desta casa, nossos irmãos e irmãs, vivem ou morrem diariamente com fome?” (CF 2023, Texto Base 85)

 

  1. As principais vítimas da insegurança alimentar são as crianças, já que, no

 

caso delas, pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento físico e cognitivo, uma vez que a anemia, que é a ausência de ferro no organismo, pode comprometer o desenvolvimento de órgãos, tecidos e o funcionamento cerebral, afetando capacidades como a memória e a atenção, a leitura e a aprendizagem de linguagens como um todo, o que por sua vez leva ao mau rendimento escolar. Esse déficit pode ser irreversível em situações de insegurança alimentar grave. Impactos dessa natureza não se resumem ao desempenho acadêmico, mas também afetam capacidades de tomada de decisão e o desenvolvimento sócio emocional do indivíduo. Crianças que sofrem de insegurança alimentar têm seu desenvolvimento e suas perspectivas de futuro prejudicadas. Ao longo de uma vida, isso pode

levar ao abandono dos estudos, menores perspectivas salariais ou baixa capacidade de manter um emprego fixo. (CF 2023, Texto Base, n. 71)

 

  1. É no deserto que se conhecem os corações (Dt 8,2); No deserto, rumo à Terra Prometida, o povo comera do Maná dado por Deus. Também ele perecia diante de acúmulos egoístas. O mistério do Maná preconiza o mistério da fertilidade da Casa Comum. Assim como a liberdade passou a significar a fidelidade ao Deus libertador, a hospitalidade e a partilha do alimento passaram a significar a imitação de Deus. (CF 2023, Resumo do Texto Base)

 

  1. A passagem evangélica escolhida para iluminar a CF 2023 é Mt 14, 13-22, em que é narrada a multiplicação dos pães. “Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: ‘Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões para que possam ir aos povoados comprar comida” (Mt 14,15). “A tendência dos discípulos é lavar as mãos diante das necessidades dos outros. Aconselham Jesus a mandar as multidões embora e que cada um se virasse para conseguir o alimento necessário” (CF, Texto base 21)

 

  1. “Os evangelhos revelam um povo sobrecarregado de dívidas e fome, atormentado pela paralisia física e social e em geral desesperado com as circunstâncias vividas e isso se deve à condição de pobreza estrutural da Palestina do primeiro século, causada especialmente por uma sede de desenvolvimento que não levou em consideração o empobrecimento de uma parcela da população. Os camponeses não tinham condições de arcar com a alta carga tributária imposta pelo Império Romano e, perdendo suas propriedades, eram forçados a migrar para as cidades, onde constituíam uma classe de pobres e mendicantes que eram marginalizados não apenas do ponto de vista social, mas também religioso.” (CF, Texto base n. 132)
  2. “Jesus era assim: tinha sempre compaixão, pensava sempre nos […] Jesus comove-se. Jesus não é insensível, não tem um coração enrijecido. Jesus é capaz de se comover. Sente-se ligado àquela multidão. […] A sua compaixão não é um sentimento indefinido; ao contrário, mostra toda a força da sua vontade de estar próximo de nós e de nos salvar. Jesus ama-nos em grande medida e quer permanecer perto de nós. […] Ao cair da noite, Jesus preocupa-se em dar de comer a todas aquelas pessoas cansadas e famintas, e cuida de quantos o seguem. Ele quer que seus discípulos participem disto. E por isto, diz-lhes: “Dai- -lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Assim demonstrou-lhes que os poucos pães e peixes que tinham, com a força da fé e da oração, podiam ser compartilhados com toda aquela multidão. […] O Senhor vai ao encontro das necessidades dos homens, mas deseja tornar cada um de nós concretamente participantes da sua compaixão. (Papa Francisco, Francisco. Audiência Geral de 17 de agosto de 2016.)

 

  1. Ele disse: ‘Trazei-os aqui’. E mandou que as multidões se sentassem na Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e deu aos discípulos, e os discípulos os

 

distribuíram às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios. Os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças (Mt 14,18- 21)

 

17.- Mateus apresenta a novidade de Jesus em contraste com o Judaísmo. A solidariedade não é mais dever dos ricos, mas de todos. (CF 2023, Resumo do Texto Base sobre Mt 14,13-21)

 

18.- Assim, Jesus é novo Moisés e novo Eliseu. Mas é maior que ambos. Sua Palavra é alimento, mas ele se preocupa e também resolve o problema da fome. (CF 2023, Resumo do Texto Base, sobre Mt 14,13-21)

19.A solidariedade ao pobre e ao faminto é tema nos Profetas, nos Sapienciais e também no Novo Testamento, por meio do testemunho da comunidade cristã. É importante observar também o contexto em que a Eucaristia é narrada pela primeira vez (1Cor 11,17-34). (CF 2023, Resumo do Texto Base sobre Mt 14,13-21)

 

20.- A responsabilidade a que Jesus exorta é o centro da narrativa, para além do milagre: Dai-lhes vós mesmos de comer. (CF 2023, Resumo do Texto Base sobre Mt 14,13-21)

 

  1. Jesus compromete os discípulos. É necessário que se sintam responsáveis diante das necessidades dos A comunidade cristã não pode assistir indiferente à fome no mundo. A mensagem de Jesus é um programa de vida que contempla também a dimensão material. Portanto, saúde e alimentação devem ser prioridades na comunidade cristã (CF 2023, Texto Base, n. 22)

 

  • O relato evangélico nos lembra que não podemos comer tranquilos nosso pão e nosso peixe, enquanto perto de nós existem homens e mulheres

 

ameaçados por tantas “fomes”. Nós, que vivemos tranquilos e satisfeitos, temos que ouvir as palavras de Jesus: “Dai-lhes vós de comer” (José Antonio PAGOLA, O caminho aberto por Jesus: Mateus. Petrópolis: Vozes, 2013, p. 179)

 

  • Com isso, o Evangelista quer ensinar que os resultados são sempre surpreendentes quando se põe em prática o que Jesus ensinou, isso reforça o convite para a comunidade não ter medo de partilhar o que tem. […] Nós temos responsabilidades na forma como o mundo se constrói. Que podemos fazer para que o nosso mundo seja alicerçado sobre outros valores, aqueles que encontramos na fonte da Palavra? (CF 2023, Texto Base, 26, 28).

 

  • Assim como João (Jo 13) associa a Eucaristia ao serviço, Mateus aqui associa a Eucaristia à responsabilidade São muitas as referências à Eucaristia: pessoas organizadas, discípulos que distribuem, ofertas que somam 7 elementos. Jesus cria uma nova ordem, uma nova lógica em seu Reino. (CF 2023, Resumo do Texto Base, sobre Mt 14,13-21)

 

  • O texto do Evangelho escolhido para motivar a Campanha da Fraternidade deste ano, assim como o conjunto da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição, convida-nos à contemplação do não dito, do não expresso, do indizível. Desafia-nos a contemplar, lançando-nos corajosamente à vivência do que é mistério, sem buscar o atalho humano da tentativa da explicação. Na narrativa de Mateus, no princípio, há uma multidão faminta e os discípulos não sabem o que fazer. São ofertados pães e peixes, mas aparentemente insuficientes para alimentar uma multidão. No fim, todos estão saciados e o alimento ainda sobra. O que há entre uma situação e outra? Há Jesus, que não obstante o mistério de sua pessoa e ação, ensina aos discípulos o que precisa ser feito. Há a graça advinda de Jesus, mas também o serviço que cada discípulo aprende e Há apenas um fio a costurar todos os acontecimentos dessa narrativa e tal fio é o do mistério inefável da compaixão de Deus, que não se deixa levar pelo sentimento,

 

mas se torna ação concreta e saciedade das necessidades mais simples, mais humanas. Quando olhamos para a situação da fome no Brasil e nos deparamos, também, com a fartura da produção e da exportação de alimentos e quando, pela fé, temos a certeza de que não nos faltam Jesus e sua graça, fica claro que só pode mesmo estar faltando o serviço do discípulo, o nosso serviço. (CF 2023, Texto Base, n. 155)

 

  • Porque não podes partir o Pão do domingo, se o teu coração estiver fechado aos irmãos. Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos. Não podes partilhar deste Pão, se não partilhas os sofrimentos de quem passa No fim de tudo, inclusive das nossas solenes Liturgias Eucarísticas,

restará apenas o amor. E, já desde agora, as nossas Eucaristias transformam o mundo, na medida em que nós mesmos nos deixamos transformar, tornando-nos pão partido para os outros (Papa Francisco, citado em CF 2023, Texto Base n.154).

 

  • Na consciência da comunidade de fé, vão ficando cada vez mais claros dois níveis de ação, necessários e inseparáveis, no serviço da fraternidade: a ajuda fraterna ao irmão que sofre e o empenho na construção de estruturas sociais justas que permitam a todos os homens viver com dignidade. (CF 2023, Resumo do Texto Base)

 

  • Ações assistenciais são importantes na medida em que respondem a situações emergenciais. Não podem, entretanto, ser as únicas no enfrentamento da fome. São necessárias políticas públicas, principalmente de Estado, e investimentos a partir da responsabilidade social das Mais ainda, é preciso que as ações mudem a realidade social, trazendo para o centro a pessoa humana e a sua dignidade, buscando a superação de uma sociedade de famintos (CF 2023, Texto Base, n. 160).

 

  • A fome é um contra testemunho que não reconhece de forma prática a dignidade integral das pessoas, não considera a primazia do bem comum como o conjunto de todos os bens necessários para cada ser humano se realizar humanamente, além de gerar toda uma conjuntura que faz com que a pessoa em situação de fome esteja em menores condições de participação, como se fosse indigente, invisível, correndo o risco de reduzir a solidariedade ao assistencialismo que, embora ajude nos momentos mais agudos, não transforma efetivamente as estruturas de pecado (CF 2023, Texto Base, 7).

 

  1. “Solidariedade é precisamente partilhar o pouco que temos com quantos nada têm, para que ninguém Quanto mais cresce o sentido de comunidade e comunhão como estilo de vida, tanto mais se desenvolve a solidariedade” (Papa Francisco, Mensagem para o VI Dia Mundial dos Pobres, XXXIII Domingo do Tempo Comum, 13 de novembro de 2022)

 

  • “A união com Cristo, que se realiza no sacramento, habilita-nos também a uma novidade de relações sociais: ‘a mística do sacramento tem um carácter social, porque a união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros aos quais Ele se Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou hão de tornar seus’ (DCE, 14). A propósito, é necessário explicitar a relação entre mistério eucarístico e compromisso social. […] Através do memorial do seu sacrifício, Ele reforça a comunhão entre os irmãos e, de modo particular, estimula os que estão em conflito a apressar a sua reconciliação, abrindo-se ao diálogo e ao compromisso em prol da justiça. A restauração da justiça, a reconciliação e o perdão são, sem dúvida alguma, condições para construir uma verdadeira paz; desta consciência nasce a vontade de transformar também as estruturas injustas, a fim de se restabelecer o respeito da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus; é através

 

da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração. […] Na perspectiva da responsabilidade social de todos os cristãos, os padres sinodais lembraram que o sacrifício de Cristo é mistério de libertação que nos interpela e provoca continuamente […] Precisamente em virtude do mistério que celebramos, é preciso denunciar as circunstâncias que estão em contraste com a dignidade do homem, pelo qual Cristo derramou o seu sangue, afirmando assim o alto valor de cada pessoa” (Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, n. 89)

 

  • “Não é o ativismo que salva, mas a atenção sincera e generosa que me permite aproximar dum pobre como de um irmão que me estende a mão para que acorde do torpor em que caí […] Na realidade, os pobres, antes de ser objeto da nossa esmola, são sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade” (Papa Francisco, Mensagem para o VI Dia Mundial dos Pobres, XXXIII Domingo do Tempo Comum, 13 de novembro de 2022)

 

  • “pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu, e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e viestes até mim” (Mt.25,35- 36).

 

34.[…] é tão difícil dar graças a Deus quando se tem mais comida do que o necessário, enquanto outros sofrem de miséria e fome. Sentimo-nos acusados por aquelas palavras de Gandhi: ‘Tudo o que comes sem necessidade, estás roubando ao estômago dos pobres’. Talvez nos países do bem-estar tenhamos que aprender a abençoar a mesa de outra maneira: dando graças a Deus, sim, mas, ao mesmo tempo, pedindo perdão por nossa insolidariedade e tomando consciência de nossa responsabilidade diante dos famintos da Terra (Antonio Jose PAGOLA. O Caminho aberto por Jesus, p. 181).

 

  1. Para nós cristãos, a fraternidade é a única maneira de construir entre as pessoas o Reino de Deus e isso se manifesta no gesto da Contudo, esta fraternidade às vezes pode ser mal-entendida, pois pensamos que amamos o próximo simplesmente porque não lhe fazemos nada de especialmente mau, mas continuamos vivendo num horizonte egoísta, sem a preocupação com as necessidades dos outros. Contra esta atitude, Jesus ordena: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. (Osmar, Debatin, “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16): o lema da Campanha da Fraternidade 2023, Encontros Teológicos | Florianópolis | V.37 | N.3 | Set.-Dez. 2022 | p. 645)

 

  1. Em vista do aspecto da fraternidade, o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” nos indica que precisamos compartilhar o nosso alimento com os necessitados. Não devemos esquecer que, se vivemos de costas para os famintos do mundo, perdemos a nossa identidade cristã. Para sermos fiéis a Jesus precisamos nos deixar afetar mais e mais pelo sofrimento daqueles que não sabem o que é viver com pão e dignidade. Ainda devemos nos comprometer nas pequenas iniciativas, concretas, modestas, parciais que nos ensinem a compartilhar e nos identifiquem mais com o modo de agir de Jesus ((Osmar, Debatin, “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16): o lema da Campanha da Fraternidade 2023, Encontros Teológicos | Florianópolis |

V.37 | N.3 | Set.-Dez. 2022 | p. 646)

 

 

  1. Deus realiza milagres no nosso dia a dia. Para tanto, faz-se necessário a partilha dos 5 pães e 2 peixes, e a bênção; ela é o “erguer os olhos” para agradecer o fruto do “suor do rosto”. O milagre inclui, também, a descentralização do poder: os apóstolos organizam o povo em grupos, distribuem o pão e recolhem as “Para combater a falta de alimento é necessário agir sobre as causas que a promovem. Na raiz deste drama estão, sobretudo, a falta de compaixão e uma escassa vontade política e social”

 

(CF/2023, Texto Base nº 09). Combater a fome não se faz somente com a política social (ver a realidade). Ela tem, também, uma raiz bíblica, a compaixão. São duas mãos que se entrelaçam em mútua entreajuda. (Frei Luiz Iakovacz, ofm, site Franciscanos.org)

 

 

  1. Conheça o Sefras (Ação Social Franciscana) – O Sefras é uma organização franciscana humanitária que luta todos os dias no combate à fome, à violações de direitos e pela inserção econômica e social de populações extremamente vulneráveis: população em situação de rua, imigrantes e refugiados, crianças e adolescentes pobres, idosos sozinhos e pessoas acometidas pela hanseníase. Guiados pelos valores franciscanos de Acolher,

Cuidar e Defender, atuamos pelo Brasil atendendo mais de 4 mil pessoas todos os dias. São serviços diários que promovem alimentação saudável, cuidados pessoais, apoio social e jurídico para população em situação de rua, acolhimento e inclusão social de imigrantes, contraturno escolar para crianças e adolescentes, cuidados na primeira infância, fortalecimento familiar, convivência e proteção de idosos, além de ações de defesa dos direitos e melhoria de políticas públicas voltadas a esses grupos. (Para mais informações sobre o SEFRAS, acesse o site https://www.sefras.org.br)

 

  1. “Não dá para correr o risco de ouvir do Senhor: “pois eu estava com fome, e não me destes de comer” (Mt 25,42). É preciso empenho pessoal, comunitário-eclesial, social e político para superar a fome no nosso País. Os padres do Concílio Vaticano II, nos recordaram: “Sendo tantos no mundo os que são oprimidos pela fome, o Sagrado Concílio insiste com todos, indivíduos ou autoridades, que, lembrados da sentença dos padres: ‘Alimenta quem está morrendo de fome, porque se não o nutriste o mataste’” (GS, n. 69). […] Que Maria, nossa Mãe, a qual declarou no seu Magnificat que Deus “encheu de bens os famintos” (Lc 1,53) interceda por

 

nós, para que sejamos instrumentos de Deus a realizar esta obra de sua misericórdia. Mãos à obra! É o Senhor quem nos envia!” (CF 2023, Texto Base, 164,175)

 

 

  1. Que, portanto, esta Quaresma seja vivida em forte espírito de Que nosso jejum abra nosso coração aos irmãos e irmãs que sofrem com a fome. Que nossa solidariedade seja intensificada. Que saibamos encontrar soluções criativas para a superação da fome, seja no nível mais imediato, assistencial, seja no nível de toda a sociedade. Que efetivamente se cumpra a responsabilidade dos governantes, em seus diversos níveis, concretizando políticas públicas, principalmente as de estado, que atinjam a raiz deste vergonhoso flagelo, garantindo não apenas a produção de alimentos, mas também que eles cheguem a cada pessoa, em especial as mais fragilizadas. Que o Senhor Jesus nos possa um dia dizer: “Vinde ( … ) eu estava com fome, e me destes de comer; todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,34.40). Abençoada Quaresma! Intensa Campanha da Fraternidade! Santo caminho até a Páscoa do Senhor, na oração, no jejum e na misericórdia. (Mensagem da CNBB sobre a Campanha da Fraternidade 2023. Fonte: Site Franciscanos.org)