Ele verdadeiramente ressuscitou!

Ele verdadeiramente ressuscitou!

 Sermão sobre a ressurreição numa coletânea de textos dos Santos Padres.  Trata-se de um sermão de Santo Epifânio.  Traduzimos o texto francês ( C’est la Pâque du Seigner,  Éd. Cerf, Paris, p. 99-101)

            O Sol da justiça, que havia desaparecido por três dias, levanta-se e ilumina toda a criação. Cristo havia permanecido três dias no sepulcro, ele que na verdade existe antes de todos os séculos. Cresce como uma videira e enche de alegria toda a terra habitada. Fixemos nosso olhar nesta luz sem declínio e sintamo-nos  invadidos por sua  claridade.  Cristo arranca  as portas da região das sombras, os mortos se erguem como que levantando  do sono. A ressurreição de Cristo dos mortos despertou  Adão. O Cristo, ressurreição dos mortos, ressuscitou e libertou Eva da maldição. Cristo ressuscitou, ele a Ressurreição, transfigurou em beleza o que era sem beleza e sem brilho. O Senhor, como alguém que dormia, acorda  e frustra as armadilhas do inimigo.  Ressuscitou e dá alegria a toda a criação. Ressuscitou e esvaziou a prisão do inferno. Ressuscitou e transformou o corruptível em incorruptível. O Cristo ressuscitado restabeleceu  Adão em sua dignidade primordial de ser imortal.

A Igreja que está no Cristo transforma-se hoje num novo céu, céu mais esplendoroso do que esse que vemos com nossos olhos, céu novo que não necessita da luz de um sol que se deita cada noite, porque tal céu tem como luz o Sol que o sol da terra sente medo quando ele o viu suspenso na cruz. Sol do qual disse o profeta: “Levanta-se, o Sol da justiça, para os que temem o Senhor”.  Sol que confere sabedoria aos insensatos e que se firma para que firme seja nossa fé. Devido a este Sol, a Igreja torna-se um céu, céu que não abriga astros errantes, mas estrelas que  brotaram com nova luminosidade da pia batismal: “Este é o dia que o Senhor fez”. No Espírito, exultemos e rejubilemo-nos nele. Dia que recapitula toda festa. Festa a respeito da qual o Espirito Santo disse: “Celebrai a festa, ramos na mão, até junto do altar”. Festa do universo inteiro, sua salvação.  É uma festa que leva ao coração de todas as festas. Dia que o Senhor abençoou, que ele santificou no qual descansou de tudo o que havia realizado.

 

Nesse dia, o Senhor cumpriu todas as tipologias, sombras, profecias:  nossa Páscoa, a Páscoa verdadeira, o Cristo foi imolado, e nele existe uma nova criação, uma fé nova, uma nova lei, um novo povo de Deus;  não o antigo Israel, mas a Páscoa nova: uma circuncisão no Espírito, um sacrifício novo, não cruento, uma nova e divina aliança.  Renovai-vos hoje e renovai vosso interior para receberdes os sacramentos da festa nova e verdadeira, de usufruir da verdadeira alegria do céu, de começar nova caminhada à luz da nova Páscoa que não passa e à luz da páscoa antiga que nada mais era do que figura dela.  Vede a diferença entre as figuras e a realidade: na antiga Pascoa, Moisés lavou seu povo num batismo noturno e a nuvem cobria o povo: na Páscoa nova, a Força do Altíssimo cobre com sua sombra o Povo de Cristo. Maria, a irmã de Moisés, era como a maestrina dos cantos na hora da libertação, agora, devido à libertação dos povos pagãos, a Igreja de Cristo está em festa em todas as Igrejas. Nos tempos de antanho, Moisés se dirigia a um rochedo,  agora o povo confia no rochedo da fé. Nos tempos antigos havia um bezerro de ouro derretido no fogo, símbolo do castigo do povo, agora o Cordeiro de Deus é imolado. Na Páscoa antiga, Moisés tocava a pedra com seu bastão, agora Jesus é pedra com seu lado traspassado. Na Páscoa antiga, a água brotava da pedra,  agora do lado  aberto do Senhor brotam a água e o sangue. Antigamente, os hebreus comiam o maná que não podia ser conservado; nós comemos o pão da vida, para a vida eterna.

Fonte: franciscanos.org