A Instituição

OFS – A Ordem Franciscana Secular tem suas origens no século XIII, quando leigos manifestaram o desejo de seguir os passos de São Francisco de Assis, seu fundador e fonte de inspiração. No início de sua história vê-se reconhecida pela Igreja como irmãos e irmãs da penitencia. O Papa Gregório IX em 20 de maio de 1221 aprova a primeira Regra “Memoriale Propositi” com a primeira denominação Ordem da Penitência. Em 18 de agosto de 1289 o Papa franciscano Nicolau IV, com a Bula “Supra Montem” reconhecia São Francisco como fundador da Ordem da Penitência e a denominava de Ordem Terceira de São Francisco.

No século XVIII a Ordem Terceira foi duramente atingida com a supressão da Ordem decretada por José II, Napoleão e outros. Com a Revolução Francesa os terceiros viram-se fragilizados e pagaram com a própria vida sua fidelidade a Igreja. Na segunda metade de século XIX a Ordem Terceira ressurgiu com nova força, fazendo uso da impressa e grandes personalidades, e muitos santos. O Papa Leão XIII com a Constituição Misericors Dei Filius promulgou uma nova Regra em 1884. Ele colocou na Ordem suas esperanças e preferências e exortou calorosamente que a propagassem por toda a parte, e novamente a Ordem floresceu. Em 1966 a Sagrada Congregação dos Religiosos concedeu a Ordem Terceira a “faculdade de atualizar-se”.

UNIFICAÇÃO

No Brasil, a partir de 1972 a OFS foi unificada sob uma única obediência, constituído Conselhos de nível Nacional, Regional e Local. Isto só foi possível graças aos trabalhos incansável de Frei Mateus Hoepers, OFM que trabalhou pela unificação das obediências e  irmão Paulo Machado da Costa e Silva, na elaboração da Regra até a reforma das Constituições Gerais em caráter experimental.  O acontecimento máximo da renovação da OFS foi o surgimento da Regra renovada, confirmada por Paulo VI, em 24 de junho de 1978. Esta Regra foi elaborada pelos Franciscanos Seculares de todos os Países, em textos breves, simples, profundamente evangélicos e legitimamente Franciscanos, tendo com característica principal à secularidade. E desde então a Ordem Terceira passou a chamar-se Ordem Franciscana Secular. “amai, estudai e vivei, esta nova Regra” recomendou-nos o Papa João Paulo II.

A OFS configura-se como uma união orgânica de todas as Fraternidades católicas espalhadas pelo mundo e abertas a todos os grupos e fiéis católicos (jovens, solteiros, casados). Nelas, os irmãos e as irmãs, impulsionados pelo Espírito a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, são empenhados pela Profissão a viver o Evangelho à maneira de São Francisco e mediante uma Regra confirmada pela igreja.

No Brasil, a OFS historicamente está ligada aos Frades da primeira Ordem e abrange todo o território nacional. Ela está organizada em dezesseis Regiões, com cerca de 623Fraternidades, e aproximadamente 16.000Franciscanos Seculares em todo o país.

No mundo a OFS está presente em 72 países com cerca de 430.000 Franciscanos Seculares Professos e mais de 50.000 inscritos na Juventude Franciscana (JUFRA) presentes nos cinco continentes:

Santos da OFS

 

Santa Isabel da Hungria

Diz a lenda que Isabel foi invocada mesmo antes de nascer. Um vidente anunciou seu glorioso nascimento como estrela que nasceria na Hungria, passaria a brilhar na Alemanha e se irradiaria para o mundo. Citou-lhe o nome, como filha do rei da Hungria e futura esposa do soberano de Eisenach (Alemanha).

De fato, como previsto, a filha do rei André, da Hungria, e da rainha Gertrudes, nasceu em 1207. O batismo da criança foi uma festa digna de reis. E a criança recebeu o nome de Isabel, que significa repleta de Deus.

Ela encantou o reino e trouxe paz e prosperidade para o governo de seu pai. Desde pequenina se mostrou de fato repleta de Deus pela graça, pela beleza, pelo precoce espírito de oração e pela profunda compaixão para com os sofredores.

Tinha apenas quatro aninhos quando foi levada para a longínqua Alemanha como prometida esposa do príncipe Luís, nascido em 1200, filho de Hermano, soberano da Turíngia. Hermano se orientava pela profecia e desejava assegurar um matrimônio feliz para seu filho.

Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria companheira para Luis. E a perseguiam e maltratavam, dentro e fora do palácio.

Luis, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de casar-se quanto antes. O que aconteceu em 1221.

A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Certa vez, Luis a surpreendeu com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder… Mas ele, delicadamente, insistiu e… milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno inverno. Feliz, guardou uma delas.

Sua vida de soberana não era fácil e freqüentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso, os filhos, Hermano, de 1222; Sofia, de 1224 e Gertrudes, de 1227.

Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que o duque Luis se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.

Quando Luis ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos a chegar na Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter freqüentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Familia Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!

Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e a expulsaram do castelo de Wartburgo. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno inverno. Duas servas fiéis a acompanharam, Isentrudes e Guda.

De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, Lá dentro dela o Senhor a chamava para doar-se ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburgo e lá foi morar com suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legitimo de Luis. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de fato feliz. Por ordem do confessor, conservou alguma renda, toda revertida para os pobres e sofredores.

Construiu abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela se sentia de fato rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de dar-lhes maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!

De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. Suas servas atestam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade os sacramentos dos enfermos. Quando seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre herança, respondeu tranqüila: “Minha herança é Jesus Cristo !” E assim nasceu para o céu! Era 17 de novembro de 1231.

Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira da Ordem Franciscana Secular.

FREI CARMELO SURIAN, O.F.M.

São Luís de França

O ano do nascimento de Luís não nos é conhecido. Sabe-se que o dia 25 de abril de 1214 pode ter sido tanto a data de seu nascimento, como de seu batismo. O fato é que, com apenas doze anos, por causa da morte de Luís VIII, seu pai, o menino tem que assumir um dos tronos mais importantes do Ocidente. No dia 30 de novembro de 1226, menos de dois meses após a morte de Francisco de Assis, o pequeno Luís era sagrado rei, na cidade de Reims, na França, com o título de Luís IX. Até Luís atingir a maioridade, a rainha Branca de Castela, sua mãe, será a tutora do rei e regente do reino

Na “geografia” espiritual do Ocidente medieval, a França destaca-se, por ser a “filha primogênita da Igreja”. Os monarcas franceses, por sua vez, em função da unção que recebem na cerimônia de consagração, com o óleo da “santa âmbula”, gozam de uma exclusividade sobre os demais reis europeus: são os reis mais cristãos da Europa, o rei da França é o “Rex Christianissimus”, o “Rei Cristianíssimo”.

Seguindo a tradição, o jovem príncipe foi educado, desde a mais tenra idade, dentro dos princípios cristãos, que também norteavam a vida de seus pais. Luís VIII era cognominado “Leão”, por sua bravura nos campos de batalha, mas também por sua firmeza no combate aos inimigos da fé, testemunhada principalmente no empenho para eliminar a heresia cátara no sul da França. Preocupados em dar uma boa formação religiosa e intelectual ao futuro rei, seus pais confiaram sua educação a preceptores de comprovado saber e fidelidade religiosa.

Sua mãe teve que enfrentar sérios desafios durante a minoridade do filho, até consolidar o poder. Nobres e opositores do reino argumentavam com a menoridade de Luís, e pelo fato de a regente ser uma mulher. A  Inglaterra aproveitou da ocasião para fazer valer seus direitos sobre territórios perdidos nos anos anteriores. Branca, todavia, soube mostrar seu valor, fazendo frente de modo corajoso e firme a todas as ameaças ao trono. Luís atingiu a maioridade aos dezenove ou vinte anos, em 25 de abril de 1234, e logo a seguir casou-se com Margarida de Provença. Sua mãe, no entanto, continuou ocupando uma posição de proeminência nas decisões mais importantes do reino. 

Principais informações sobre a vida de São Luís

Estamos muito bem informados sobre a vida de Luís, através das várias biografias, escritas por contemporâneos seus, ou pessoas próximas a seus familiares. As principais informações nos foram transmitidas por seu amigo, confidente, e mais importante biógrafo, o leigo Jean de Joinville, que escreveu “A Vida de São Luís”. Outra biografia foi escrita por Godofredo de Beaulieu, frade dominicano e confessor do rei, que lhe esteve muito próximo nos últimos vinte anos de sua vida. O capelão do rei, Guilherme de Chartres, Grão-Mestre da Ordem dos Templários também escreveu uma “Vida de São Luís”. Outra fonte importante é a vida escrita pelo franciscano Guilherme de Saint-Pathus, confessor da rainha Margarida de Provença, que se utilizou do inquérito papal para a canonização de Luís, para escrever a sua “Vida”. Finalmente, outra obra sobre a vida de Luís foi escrita por Guilherme de Nangis, também confessor da rainha Margarida. As biografias de Luís, para além das intenções políticas que as permeiam, nos fornecem importantes informações sobre a vida, as opções, o modo de agir de um homem que, colocado à frente da administração política de um reino, buscou pautar sua vida segundo os valores do Evangelho e dos padrões propostos pela Igreja de seu tempo. E o fez de modo tão perfeito, que chegou à honra dos altares. 

Um santo leigo!

Diferentemente dos santos de seu tempo, Luís é um santo leigo, e é casado. Isto não deixa de ser notado pela maioria de seus biógrafos: santo, apesar de ser leigo e casado! Humilde, piedoso, virtuoso, Luís, no entanto, continua um leigo, não é um sacerdote. É, sobretudo, casado, pai de família, que não renuncia às obrigações e prazeres conjugais e à sexualidade, submetidos aos ditames da lei da Igreja, como os “dias de resguardo”. Luís vai ser pai de onze filhos, três dos quais nascem durante sua permanência no Egito. Sua mulher o acompanha na peregrinação. Sua biografia, a primeira vida de um santo escrita por um leigo, vai priorizar elementos que normalmente não se destacavam nas biografias, quase todas escritas por eclesiásticos e sobre clérigos: Jean de Joinville vai pôr em relevo, na vida de Luís, sua relação com a sexualidade, com a guerra e a política. É um rei que vai à guerra, que combate valorosamente, inclusive nas cruzadas, mas é, ao mesmo tempo, um rei de paz, que tudo faz para mantê-la, através dos tratados e negociações.

Isso não o impede de exercer bem suas funções em favor do povo. Coadjuvado em grande parte pela astúcia política de sua mãe, Branca de Castela, Luís conseguiu estabelecer a paz e a harmonia no reino. Isso foi conseguido após árduas batalhas, mas também através de hábeis negociações e uma série de tratados, onde não faltaram os matrimônios arranjados entre os irmãos do rei e as filhas da nobreza de reinos circunstantes, em função da pacificação e do fortalecimento dos laços do reino com outras potências. Outra frente de atuação de Luís foi a organização das finanças. Em política, Luís tentou instaurar um código de conduta especificamente cristão.

 Gravemente doente: o voto da cruzada

Uma vez organizado e pacificado o reino, Luís organizou a sétima cruzada. Na origem desta expedição está a grave doença que o acometeu, em dezembro de 1244, e que o deixou praticamente à beira da morte. Num esforço extremo para recuperar a saúde, o rei fez a promessa de que, se ficasse curado, iria organizar uma cruzada. Depois de quatro anos de preparação, em junho de 1248, com sua mulher Margarida, e seus irmãos Carlos de Anjou, Afonso e Roberto de Artois, após receberem a bênção do papa Inocêncio IV, partiram para libertar o Santo Sepulcro. O reino ficou a cargo de sua mãe, Branca de Castela, que já dera provas suficientes de que teria condições de conduzi-lo na ausência do filho. Devido a uma série de reveses, incluindo tempestades que desviaram a frota, além de epidemias, os cruzados tomaram, em 08 de junho de 1249, a cidade de Damieta, no Egito. No caminho para o Cairo, deu-se a famosa batalha de Mansurá, onde perdeu a vida o irmão de Luís, Roberto de Artois. A disenteria e o escorbuto ajudaram a enfraquecer ainda mais a tropa. Luís e seus soldados foram feitos prisioneiros pelos muçulmanos. Sua mulher, Margarida, passou a comandar os cruzados. Após o pagamento de uma vultuosa soma, Luís e seus soldados foram libertados depois de um mês de cativeiro, em maio de 1250. O rei e suas tropas passaram ainda quatro anos na Terra Santa, consolidando as fortalezas cristãs, conduzindo negociações entre cristãos e muçulmanos. Tendo recebido a notícia da morte da mãe, retornou à França, entrando em Paris em setembro de 1254.

A volta da cruzada, a saudade do Oriente: a morte às portas de Túnis

De volta da cruzada, entre 1254 a 1270, Luís continua desempenhando sua missão de monarca cristão. Se antes já exercia suas funções como rei exemplar, praticando a justiça e defendendo o direito, principalmente dos pobres, após o retorno do Oriente estas práticas se acentuam. Os estudiosos sublinham a mudança de comportamento após a volta da cruzada. A experiência frustrada deixou marcas profundas na alma de Luís. O rei justo, ético, modelo de cristão piedoso, passa a ser ainda mais cioso da prática da justiça, além de acentuar suas práticas de devoção e de piedade, e suas obras de caridade para com os pobres e os religiosos.

Desde que retornara da cruzada, o horizonte de vida de Luís passou a ser a Terra Santa. Em meio às funções que exigiam a administração do reino, o monarca deixava claro que não sossegaria enquanto não organizasse uma nova expedição à Terra Santa. A decisão foi anunciada a 25 de março de 1267. Em 04 de junho de 1270, Luís, seus filhos João Tristão e o herdeiro Filipe, além de vários nobres, partiram em direção a Túnis. Desembarcados às portas da cidade, uma forte epidemia de disenteria e febre ataca os cruzados. João Tristão morre a 03 de agosto. Depois de muito sofrimento, estendido sobre um leito de cinza em forma de cruz, Luís inicia sua definitiva viagem ao encontro daquele que tão ardentemente buscara nesta vida. Um longo processo iniciado logo após sua morte vai culminar com a canonização solene, sob o pontificado de Bonifácio VIII, em 1297. Sua festa foi fixada em 25 de agosto, dia de sua morte.

A espiritualidade que moveu São Luís de França

“Os contemporâneos do rei… praticamente não tinham como deixar de classificar esse soberano a não ser com a palavra santo – mas um santo excepcional, do mesmo modo que São Francisco o tinha sido como religioso, no início do mesmo século XIII”. Esta afirmação do ilustre medievalista francês nos fornece elementos para uma análise da espiritualidade que inspirou os gestos e decisões do monarca, a ponto de ter sido declarado santo pela Igreja. Um dado importante é o fato de que Luís já era considerado santo por seus contemporâneos. Mas era um santo com um endereço definido: um santo franciscano. Ora, de onde vem esta percepção? Para dar uma resposta, temos que nos debruçar brevemente sobre a espiritualidade cristã que dominava então o Ocidente à época de Luís.

Fonte: Franciscanos.org