Fevereiro de 2023
É com alegria que coloco no site da OFS o número de fevereiro de 2023 desta revista eletrônica que fala das coisas da vida, do cristianismo e do jeito franciscano de viver. Os acontecimentos de ódio e de violência que assistimos no final do ano passado e no mês de janeiro próximo passado nos deixaram estarrecidos. O lobo de Gubbio ainda anda solto e não foi domesticado. As leituras que oferecemos deveriam nos ajudar a ser pessoas evangelicamente de paz.
Frei Almir
QUEM TEM VOCAÇÃO PARA A ORDEM FRANCISCANA SECULAR?
PARA O TEMPO DA QUARESMA
A quaresma é o tempo favorável para começar tudo de novo. Há o tempo de contemplar o Menino das Palhas. Há o tempo de ouvir a voz do Senhor e não fechar o coração. Tempo de ouvir a voz do Senhor que impaciente quer nos falar. Tempo da quaresma.
Não podemos perder nenhuma ocasião que a vida nos apresenta para fortalecer nosso homem interior. Somos discípulos a caminho. Rosto e olhar alevantados em direção ao horizonte. “Sois capazes de rejuvenescer o mundo, sim ou não? O Evangelho é sempre jovem. Vós é que estais velhos!” (Georges Bernanos). Nunca o empenho de fidelidade e busca de limpidez na fé foi tão difícil quanto em nossos dias. Com tantas transformações estamos sempre diante do imprevisível, daquilo que nos surpreende. Precisamos de coragem. Mal termina uma ventania, começa outra. Será preciso fincar os pés em terreno firme. Sem medo, ir procurando o mapa do caminho. Importante tentar descobrir os caminhos do futuro que andam sendo esboçados através de alguns “sinais dos tempos” e, até mesmo por meio de nossa irritabilidade com tudo aquilo sem sentido que nos vem amarrando como seres humanos e cristãos. Lutar, perseverar. “Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor e não endureçais os vossos corações”.
A Quaresma é um tempo favorável. Tempo particular de dialogar com o Invisível. Tempo de leitura feita com sabor. Tempo para observar o silêncio exterior e interior para que a Palavra deite raízes nos que se dispõem a acolhê-la. Quem sabe trata-se de ouvir o Senhor pela primeira vez. Nunca é tarde demais.
Escuta e silêncio caminham juntos. “A dominação soberana da mídia, que dita ideias e convicções pré-fabricadas, que suscita necessidades e estabelece o primado da ficção sobre a realidade; o uso bobamente difundido do que se denomina “música de fundo” que cria o hábito do ouvir desatento e casual… Porque não reagir a essa dominação que aliena nossas faculdades interiores e nos torna cada vez menos capazes de nos comunicar com os outros e de viver conosco mesmos. Em nossos tempos vivemos mais frequentemente fora de nós mesmos do que em nosso interior. Porque não nos rebelamos contra essa condição de expectadores-ouvintes, forçados a ouvir conversas nos celulares que quebram o silêncio e se impõem a todos, em todos os lugares, dos trens aos lugares púbicos, das salas de reuniões à salas de aulas e de conferências, dos refúgios nas montanhas às praias ensolaradas” (Enzo Bianchi).
Quaresma, tempo de partilha. Tempo de misericórdia e esmola. Não se trata apenas de dar dinheiro aos miseráveis e um prato de comida aos famintos. Trata-se de deslocar o centro de nós para os outros. Há gestos colocados bem perto de nós: atenção a um colega de trabalho deprimido com ideias de suicídio, um parente de trato difícil que se envolveu numa situação delicada, zerar a conta da farmácia de um desempregado que mora perto de nós. Tudo feito discretamente. Sem que a esquerda saiba o que faz a direita.
Quaresma tempo de rever a qualidade de nossa oração. Tempo de questionamento e de revisão de nossa vida de diálogo com o Altíssimo. Até que ponto somos íntimos do Senhor? Rezamos com os lábios e também com o coração? Temos gosto de estar com o Senhor? Gostamos de praticar a meditação? Sabemos dar valor à oração comunitária? Qual a qualidade de nossa oração na Fraternidade? Ela é oração de verdade, ou fórmulas, por vezes ditas gritadamente?
Um pensamento de Karl Rahner:
O batismo é morte que nos mergulha na morte de Cristo (Rm 6,3-4). Tal morte perdura ao longo de toda a nossa vida: o rito batismal nada mais é do que inauguração, o sacramento nada mais é do que a imagem e a figura da humilde realidade que nos espera ao longo do tempo da vida e durante o qual germina a glória que deve vir. Da mesma forma, o sacramental das cinzas, da qual traçada em nossa fronte é como se fosse um novo ponto de partida anual no caminho que nos faz voltar à nossa poeira original. É também a imagem e a figurada realidade banal de nossa vida cotidiana e da glória que ela esconde em si.
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO CUIDAR
A parábola do Bom Samaritano vive martelando dentro de nós. O cuidado nos leva a prestar atenção aos jogados à beira do caminho por onde passamos. Cuidar significa suster a humanidade. O cuidado é um compromisso que nos define eticamente. Cuidado em fazer uma comida, em dirigir um veículo, em proceder a uma cirurgia, em dar a mão a quem tem dificuldade de andar. Os descuidos, ao menos algumas vezes, custam vidas humanas. Os cuidados feitos às coisas do dia a dia têm holofotes. Nada tem do heroico. São coisas do dia a dia. O cuidado é o contrário do desinteresse e da indiferença. Cuidar é mais do que um ato. É uma atitude. É mais do que um momento de atenção e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação e de preocupação, de responsabilidade e compromisso efetivo e afetivo com as outras e os outros. Cuidar é oferecer ajuda no sofrimento, qualquer que seja. O cuidado concreto para com uma pessoa realiza o mandamento universal de amor ao próximo. O ser humano que não cuida será um levita ou um sacerdote e tomará distância das entranhas do Evangelho. Cuidar é garantir a continuidade da vida, velar para que as limitações não anulem os recursos próprios. Trata-se de não abandonar a pessoa à solidão, nem ao perigo da situação limite em que se encontra. Tudo feito com vigilância não fiscalizadora, mas preocupada. Quando respondemos ao mandato “cuida dele ou dela”, somos mediação de Deus. (Publicação do Centro de Pastoral Litúrgica de Barcelona).
IV Francisco de Assis nas fontes e escritos
Continuamos a acompanhar os passos dados por Francisco apoiados em seus escritos e nas fontes primitivas. Até agora, em janeiro, tivemos Francisco, filho de Pietro Bernardone. A partir de agora são dados do Irmão Francisco, de Frei Francisco e dos passos primeiros da fraternitas.