Agudos (SP) – No último dia 26 de outubro, o Núcleo Centro-Oeste Paulista da Família Franciscana se reuniu para celebrar os 800 Anos do Encontro de São Francisco de Assis com o Sultão do Egito Al-Malik Al-Kamil. O encontro celebrativo aconteceu no grande Seminário Santo Antônio de Agudos e contou com a presença de muitos franciscanos e franciscanas do interior de São Paulo, e também de alguns irmãos de outras religiões. Todo o encontro contou com a assessoria de Frei Vitório Mazzuco Filho, OFM, que durante todo esse ano se dedicou à pesquisa deste evento inspirador da vida de Francisco de Assis.
Durante a abertura do encontro, em nome da equipe de coordenação do núcleo, Frei Zilmar Augusto, OFM, recordou que este encontro celebrativo estava acontecendo “em nome de Deus”, que é fraternidade: “Hoje, neste grande Seminário, nos reunimos em ‘nome de Deus’. E, em seu nome, formamos uma fraternidade. Quem se reúne em ‘nome de Deus’ não pode se reunir de outro modo a não ser o modo fraterno. Não viemos aqui para fazer proselitismo ou para defender as nossas religiões. Mas, viemos aqui, simplesmente para nos encontrarmos; para celebrar a diversidade religiosa, pautada na cultura do respeito, do diálogo e da cooperação. Viemos aqui para lançar as sementes de um florescimento e proximidade entre nós. Viemos aqui para falar e refletir sobre nossa caminhada, sobre o cuidado com a nossa Casa Comum, sobre o cuidado com os excluídos e marginalizados e sobre o diálogo entre nós”, apresentou o frade.
Com alegria fraterna, foram acolhidos os líderes religiosos presentes: Cirineu Gomes Manduca, Sacerdote e representante da Umbanda, Bauru-SP; Carmem Baffi, representante da Igreja Seicho-No-Ie, Regional Bauru-SP; Dalton Morales Ribeiro, representante do Centro Espírito Kardecista, de Agudos-SP; Mameto Monâquissimbi de Ozambi, representante do Candomblé Congo Angola, de Marília-SP; Pastora Paula Trein, Pastora Evangélica de Confissão Luterana, de Marília-SP; João Guilherme, representante da Yoga, Agudos-SP. Após as palavras de acolhida, os jovens de Agudos preparam um emocionante momento de oração abrindo as atividades e introduzindo a todos no tema proposto para o encontro: “Franciscanos e Franciscanas: profetas do diálogo, do respeito e da paz”.
O tema foi muito bem desenvolvido por Frei Vitório. Sempre chamando a atenção para a profecia franciscana de nosso tempo, abordou as dimensões do diálogo, do respeito e da paz na ótica do franciscanismo. A todo momento Frei Vitório lembrou os ensinamentos de São Francisco sobre o respeito às religiões e à recusa de determinados fundamentalismos presentes em nossos dias. “Francisco de Assis nos ensina que Deus é tão rico e expressivo e tão acima de determinações para poder ser esgotado na sua plenitude por determinada tradição de experiência religiosa, que, por ser determinada já é por si muito limitada. Voltemos à ideia expressa na introdução desta reflexão: Há mais verdades religiosas em todas as religiões no seu conjunto do que numa única religião; o que também vale para o cristianismo. Existem, pois, aspectos verdadeiros, bons, belos e surpreendentes nas múltiplas formas presentes na humanidade de compromisso e entendimento com Deus”, enfatizou.
PONTOS COMUNS ENTRE AS RELIGIÕES
Na parte da tarde, ainda com a moderação de Frei Vitório, aconteceu um painel, que ganhou o nome de “Patrulha da Paz e do Diálogo”, com o objetivo de ir atrás de iniciativas de diálogo inter-religioso, e também mostrar os pontos comuns das diversas crenças e religiões. Esse momento foi iluminado por três palavras iniciadas com a letra “P”: Paz, Pobre e Planeta. A partir delas, cada líder religioso apresentou suas iniciativas e preocupações na construção da paz, no cuidado com os pobres e na relação com a Casa Comum. Foi um momento rico de grandes partilhas, que propiciou o conhecimento das outras religiões.
Ao longo de todo o encontro, podia-se notar muitos irmãos e irmãs com os olhos marejados e reflexivos, desconstruindo em si ranços e preconceitos há anos edificados. Os semblantes dos franciscanos e franciscanas estavam luminosos, revestidos de uma energia indizível. Esses semblantes eram os semblantes dos que descobriram que o irmão de uma outra crença religiosa é nosso irmão e merece respeito e reverência. Muitos destacaram a harmoniosa relação entre todos os participantes. Até mesmo os líderes religiosos convidados, destacaram que se sentiram bem acolhidos e respeitados. “O Candomblé não é apenas uma religião que se assume, mas é uma religião que se veste. Quando saímos de nossas casas para participar de encontros como este, não podemos negar que saímos com certo receio, de como vai ser a recepção, de como seremos acolhidos… Hoje, saio daqui renovado, com muita esperança! Porque, desde o momento em que chegamos, em que descemos do carro, fomos recebidos com sorrisos maravilhosos, de braços abertos, com paz e bem! Tenho a certeza que a pessoa que está saindo desse encontro é uma pessoa diferente daquela que aqui chegou. E isso eu agradeço a vocês”, testemunhou Marcos, do Candomblé Congo-Angola de Marília, durante a Recordação da Vida, na Celebração Inter-religiosa. Esse testemunho é prova da energia divina, talvez a mesma vivida entre Francisco e o Sultão, que envolveu a todos os participantes num clima de fraternidade.
O encontro encerrou-se com a Celebração Inter-religiosa pela paz e pela terra, rezando em comunhão com todas as religiões e crenças. Ao final da celebração, os líderes religiosos receberam uma muda de Ipê para plantarem em seus lugares de oração. “Que essas mudas, plantadas nos terrenos dos seus templos ou igrejas, terreiros ou axés, casas de orações ou salas de reuniões fraternas relembrem que, em Agudos, durante a celebração do jubileu de 800 anos do Encontro de Francisco com o Sultão, nosso núcleo lançou as sementes do diálogo, do respeito e da paz entre as religiões. Que esses ipês nos lembram o dia em que tiramos a paz, o diálogo e o respeito de nossos livros de formação e os vivenciamos de modo profético e fraterno. Que cada florescimento desses ipês nos lembre que sempre precisaremos fazer florescer os compromissos assumidos neste dia”, finalizou Frei Zilmar, agradecendo a participação de todos os irmãos e irmãs nesta celebração.
DEPOIMENTOS
Bernadete Pereira, franciscana secular de Piracicaba, disse que foi um momento maravilhoso e “mexeu” com a gente: “Uma inquietação que nos faz olhar o diferente com o olhar de amor. Foi uma experiência muito singular. Amei ter participado”.
Dalton Morales, do Centro Espírita Agudos, agradeceu o convite para participar de um momento tão importante para todos: “Sentir a harmonia entre as religiões, viver o respeito apesar das diferenças e perceber que todos temos objetivos comuns. Muito o obrigado pela oportunidade”.
Terezinha, franciscana secular de Votuporanga, disse que foi um dia perfeito para a reconstrução interior: “Quantas coisas precisamos melhorar em nossas vidas… Estar à procura já é um bom começo”.
Texto e fotos: Equipe de Coordenação