Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
1. Pululam os movimentos religiosos no seio da Igreja. Uns são mais na linha da espiritualidade cristã ou mariana, outros conjugais, outros ainda na linha da ação. Alguns marcados por uma espiritualidade conservadora, outros com acentuação da dimensão comunitária e transformadora. Todos eles, sejam focolarinos, carismáticos, Opus Dei, desejam levar seus membros à santidade de vida. Não podia ser de outra forma. O grande perigo é o da multiplicação de grupos que agem e vivem mais ou menos fechados. A Igreja sempre precisou de grupos suscitados pelo Espírito para revigorar-se. Salesianos, beneditinos, jesuítas e franciscanos são convidados a serem partes de uma bela sinfonia: a sinfonia do Reino que vai se implantando entre nós. Não constituem guetos.
2. Entre esses movimentos espirituais está a Ordem Franciscana Secular. Leigos cristãos manifestam o desejo de seguirem Cristo de perto, buscando a santidade, na trilha de Francisco de Assis, de seu jeito de viver, de ser, de andar pelo mundo. Os terceiros franciscanos seculares levam a sério a vida cristã que lhes é apresentada e não querem repetir a mesmice, não querem ser pessoas que correm de um lado para o outro, mas que buscam o Cristo vivo e ressuscitado, pobre e despojado, vivendo simplesmente em fraternidade e trabalhando para que o mundo seja daquele que os ama.
3. Não vivem nas sacristias, nem são em primeiro lugar trabalhadores nas paróquias. São pessoas chamadas, vocacionadas. Entram na Ordem Franciscana Secular porque experimentam uma vocação. “ É isso que eu quero, isso que busco de todo o coração”. São cristãos seculares, cristãos sérios vivendo em suas famílias, no mundo do trabalho, na transformação das coisas à luz do jeito franciscano de viver: família franciscana, oração franciscana, trabalho franciscano, simplicidade e humildade franciscanas. Insistimos: são seculares.
4. São pessoas que estão num constante estado de crescimento, de amadurecimento humano, cristão, franciscano e missionário. Através da formação inicial e permanente, vão crescendo como seres humanos delicados, corteses, atenciosos aos outros, fraternos. Convivem com Cristo de tal forma que, aos poucos, podem dizer com Paulo que não são eles que vivem, mas Cristo que neles vive. De tanto irem às Fontes Franciscanas se encantam com o exemplo de Francisco e procuram ser discípulos do Poverello pobre, despojado, alegre, espontâneo, generoso. E colocam-se à disposição dos outros. Gostam de cuidar dos leprosos de hoje e conviver com os mais despojados.
5. Muitos dos franciscanos seculares são casados. E vivem em suas famílias os valores franciscanos. Num mundo marcado pelo individualismo, cultivam o fraternismo e o mútuo serviço. Num tempo de sofisticações, são simples. Na era do consumismo, não adoram o poder, o dinheiro. São seres profundamente evangélicos que enfeitam a face da terra. Um família franciscana é uma bênção para a Igreja.
6. São e querem ser cristãos de olhos abertos. Não agem por agir. Pensam no que fazem e por isso, em suas reuniões e encontros se servem do método do ver-julgar e agir. Examinam a realidade, iluminam-na com sua vida evangélico- franciscana e passam a agir. Tudo passa por seu crivo: dinheiro, poder, modo de fazer pastoral, relacionamentos com outras pessoas, lazer, política.
7. Normalmente, os franciscanos seculares vivem no mundo. Reúnem-se ao menos uma vez por mês para a reunião mensal. Ninguém falta à reunião. Os que faltam justificam a ausência. Participam, vivem cada momento do encontro. Rezam juntos. Partilham a vida. Cuidam especialmente dos doentes. Três momentos constituem sua reunião: oração, estudo e confraternização. Contam os franciscanos seculares com a presença de um religioso franciscano como assistente, aquele que os acompanha e que é um sinal de liame da Terceira com a Primeira Ordem. Os Provinciais são tidos a nomear assistentes para todas as fraternidades de seu território. Em suas reuniões, os franciscanos seculares procuram descobrir juntos onde a Ordem e a Igreja precisam de seus braços, de sua voz e de sua dedicação pastoral. Não se concebe um franciscano acomodado e inerte. A reunião geral é sacramento de uma vida fraterna que os irmãos vivem durante o mês.
8. Depois da formação inicial os terceiros franciscanos fazem sua profissão. Trata-se de uma retomada da graça do batismo, agora com consciência mais aguda. Não se trata apenas de um gesto religioso qualquer. Os que professam ficam ligados para sempre à Ordem e afirmam desejar buscar as graças da santidade nessa Fraternidade até o fim de seu dias.
9. Adotam um estilo de vida simples e acolhedor, são corteses e atenciosos, modestos e fraternos, perseverantes e fiéis.
10. Vivem um justo equilíbrio entre ação e contemplação. Repetem em suas vidas as inquietudes de Francisco. Este, por vezes, tinha vontade de viver nos eremitérios e grutas, em silêncio com seu Amado. Ele compreendeu que sua vocação era ir pelo mundo, sem perder o espírito da santa oração e da devoção. Os franciscanos seculares gostam de rezar em silêncio, retiram-se para lugares ermos. Têm uma intensa vida de oração. Ao mesmo tempo são pessoas ativas porque sabem que precisam tornar Cristo amado.