29º Domingo do TC – Ano B – 2018
21/10/2018
Pistas homilético-franciscanas
Leituras: Is 53,10-11; Sl 32(33), 4-5.18-19.20.22 (R/.22); Hb 4,14-16; Mc 10,35-45
Tema-mensagem: Antes de poder e poderosos uma Igreja de menores, servos e irmãos
Sentimento: gratidão e humildade
Introdução
A liturgia de hoje nos leva a celebrar o mistério da Igreja, mais precisamente sua identidade mais profunda que nasce de seu, nosso, fundador Jesus Cristo crucificado, o Servo sofredor: uma Igreja cujo poder é o “não poder”, constituída mais de servos humildes e pobres do que de poderosos, mais de irmãos do que de autoridades. Assim, poderíamos denominar este dia de “O Domingo da Igreja serva, fraterna e sofredora”.
1. O servo justo e sofredor
Quem nos introduz nesse mistério é um pequenino trecho do famoso Livro da Consolação, do pseudoisaias cujo tema central é a restauração de Israel e salvação universal. O trecho faz parte do 4º poema ou cântico que enaltece a figura do discípulo e servo de Deus sofredor.
Estamos diante da revelação mais profunda, clara e explícita do Antigo Testamento acerca do futuro Messias, entendido como Servo de Deus, sofredor e salvador: Ele encarna o destino do “Resto de Israel” que tem como missão o resgate vicário e redentor não apenas de toda a comunidade judaica, mas também e igualmente, de todos os povos da terra. A revelação é inédita, completamente incompreensível pela sabedoria do mundo. Semelhante revelação não se encontrará mais em nenhuma outra página do Antigo Testamento.
1.1. O senhor quis
O trecho em questão, começa proclamando a origem de todo este mistério: “O Senhor quis…”. Mais que um querer voluntarista, centrado no próprio eu, o querer de Deus tem sempre como raiz seu desejo mais profundo, que não é outro senão o bem-querer em favor de suas criaturas, especialmente os homens. Querer, aqui é igual a amar. Mais tarde João dirá em seu Evangelho que Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho único…”. Assim, em vez de Deus quis poderíamos, também, dizer: “Deus amou…”.
Por isso, também, este querer ou amar logo se transforma em obra: o “resgate” (expiação) de muitos através dos sofrimentos. O termo “resgate” significava nos tempos de Jesus a libertação ou aquisição de uma pessoa, especialmente de um escravo mediante pagamento. Esta obra, mais tarde, o próprio Jesus a proclamará: “O Filho do Homem veio… para servir e dar a sua vida em resgate por muitos…” (Mc 14,24).
1.2. Através dos sofrimentos
O aspecto mais significativo e que constitui o coração deste pequenino trecho diz respeito ao como se dá este resgate. Desde o começo do verso 10 até o fim do verso 11 a acentuação é sempre a mesma: “através dos sofrimentos, oferecendo sua vida… por esta vida de sofrimentos … carregando sobre si as culpas de inúmeros homens…”. Eis a missão do Servo sofredor.
Servo, aqui, está referido a experiência da afeição que nasce da graça do encontro. É movida pelo vigor e pela alegria desta graça que, por exemplo, nossa Senhora exclama diante da visita do Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor”, ou São Francisco, diante do Crucificado: “Senhor, que queres que eu faça?”. Diante desta experiência o outro sempre será “meu senhor, minha senhora” e eu “seu servo, sua serva”.
Qual será então, aqui, a característica essencial deste servo de Deus sofredor que vem para resgatar o homem de seus pecados? Como realiza esta sua missão?
O Servo do Senhor carrega o peso, o jugo, das enfermidades e das maldades dos homens. Na serenidade de sua paciência, ele sustenta tudo e todos, que são marcados pelo mistério da iniquidade. Suporta os homens, não só no sentido fraco de tolerar, mas no sentido forte de ser para eles um suporte, uma sustentação, força e vigor fundamental, fundante. Sustenta o peso do mundo como a raiz sustenta a árvore, como o alicerce sustenta a casa, como a mãe e o pai sustentam os filhos…
Como uma espécie de marca d’água no poema de Isaías nós vemos a imagem de Cristo Crucificado. O homem desfigurado pelo sofrimento – que perdeu a aparência de ser humano, que não tem beleza para atrair o olhar – causa assombro. Nele acontece algo de inaudito. O homem das dores, julgado um maldito, esconde um mistério, que o profeta revela: “Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades. Caiu sobre ele o castigo que nos salva: pelas suas chagas fomos curados”. Sua morte humilhante tem, na verdade, o sentido de um sacrifício de expiação: ele toma para si o pecado do mundo – isto é, toda a extensão e todas as implicações que o pecado inflige sobre a humanidade.
O Servo de Deus, portanto é assim que nos resgata: carregando não apenas nossos pecados, mas toda a nossa pessoa. Na verdade ele não tira o pecado do mundo. E nem poderia. Pois, para fazê-lo teria que tirar de nós o que temos de mais precioso: nossa condição de filhos. Teria que nos transformar em escravos ou brutos como os animais e as árvores. Ele nos enche tanto com seu amor que, de tão impregnados dele, não vemos mais nossos pecados. Vemos apenas seu amor, sua misericórdia. Eis a libertação, a salvação.
1.3. Comungar do sofrimento do outro, o maior ato de comunhão e de identificação
O que resgata, portanto é a comunhão com a dor, o sofrimento – cruz – do homem e que não significa nenhuma outra coisa senão profundo desejo de identificação com a pessoa amada. Talvez seja esta a razão que leva os grandes místicos a pedir a graça de poder sofrer o que Jesus sofreu, como, por exemplo, o fez, São Francisco: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquela dor que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima Paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para de boa vontade suportar tal Paixão por nós pecadores” (3 CCE). Ou como o faz Marina, uma mística franciscana secular: “O inacreditável é que, quanto mais unida a Deus eu me sinto, mais desejo sofrer. Rezo até, pedindo sofrimento. Talvez seja desejo de identificação, não sei. Não é masoquismo, não é sofrer por sofrer. É um sofrer por uma finalidade que desconheço. E sinto que com Deus, tudo é diferente, contraditório, tudo parece de cabeça para baixo” (O Livro de Marina, A formiguinha que se encantou do Sol, ESTEF, 2018, p. 257).
O servo sofredor, “o justo, fará justos inúmeros homens…”. “Inúmeros”, significa, sem número, ou seja: todos os homens, a humanidade toda e não apenas os judeus. Entregando-se às mãos de Jahvé, o Servo sofredor, alcança aquilo que nem Israel histórico com todos os seus sacrifícios, leis e tradições nem, os gentios com suas multidões de deuses conseguiram. Enfim, Ele é a plena realização de todas as promessas e profecias do Antigo Testamento acerca da salvação de Jahvé, o início de um novo povo de Deus, de uma nova humanidade.
Não há como duvidar, pois de que tudo o que é dito nesta primeira leitura de hoje, foi realizado literal e plenamente, por Jesus Cristo histórico, o “Filho do Homem que veio para servir e dar sua vida em resgate de muitos” (Mc 14,24).
2. Um sumo e eminente sacerdote
A segunda leitura, tirada da Carta aos Hebreus, vem coroar tudo que o profeta disse acerca do Messias servo sofredor. O autor estava diante dos neoconvertidos do judaísmo. Vistos com desconfiança, maltratados e perseguidos como hereges por parte dos compatriotas estavam com saudades das glórias do Templo, da segurança da Lei, dos ritos sagrados e principalmente da pompa do sumo sacerdote que uma vez por ano, no Dia da Expiação, entrava no “Santo dos Santos” para oferecer um sacrifício expiatório por todos os pecados de todo o povo de Israel. Agora era-lhes apresentado um sumo sacerdote não apenas diferente, mas inteiramente oposto: um nazareno, pobre, despojado, humilhado e condenado a morte como um maldito de Deus e o pior de todos os pecadores.
É então que entra, o autor da Carta, em tom solene e a modo de anúncio oficial: “Irmãos, temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus o Filho de Deus”. Não há pois o que temer. Ele não veio para oferecer sangue de touros e carneiros, mas o sangue de seu próprio corpo, diretamente a Deus nosso Pai. Mas, apesar de Ele ser “o Filho de Deus”, não está longe nós, uma vez que possui a nossa e mesma natureza, sendo sangue de nosso sangue e carne de nossa carne. Ele também provou tentações e perseguições como nós e a própria condenação à morte injusta.
O maior de todos os argumentos porém, para que perseverassem na fé e no seguimento de Jesus, em meio as tribulações é que Ele “é capaz de compadecer-se de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado como nós, exceto no pecado”. Não há pois o que temer uma vez que Ele agora exerce sua função não mais dentro de um templo feito de pedras, mas diante do próprio Deus, vivo e verdadeiro. Sua natureza divina garante nossa presença junto de Deus e sua natureza humana garante sua presença junto de nós. Eis pois porque “devemos aproximar-nos Dele com toda a confiança”. Sim, devemos aproximar-nos com fé diante de Deus cujo trono não é de condenação, mas de graça, porque Cristo, o sumo sacerdote está junto a ele ou melhor Ele é o próprio trono, a fonte de onde jorra a gratuidade da misericórdia de Deus. O maior de todos os benefícios pelo qual o cristão deve ser sumamente feliz, alegre e grato a Cristo é, pois o de haver nos conduzido para junto do Pai, para dentro de sua casa e familiaridade. Eis porque Ele nos salva. Assim, por meio de Cristo temos Paz com Deus e acesso à sua graça.
3. Uma Igreja de irmãos menores, servos de tudo e de todos
O evangelho de hoje, tirado de Marcos, nos introduz no mistério da Igreja, mais precisamente, em sua constituição interior, isto é, como devem viver e conviver os discípulos de Jesus. Dividido em duas partes, temos, primeiramente o pedido dos filhos de Zebedeu e depois o ensinamento de Jesus.
3.1. Um pedido totalmente fora de propósito
A cena se dá logo após o terceiro anúncio de Jesus acerca de sua Paixão. Foi então que os dois discípulos se aproximaram de Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir…”. O momento é de medo da cruz e este pedido revela que eles não entenderam nada do que Jesus estava falando, muito menos de suas consequências. É então que Jesus aproveita a ocasião para através de seu ensinamento conduzi-los a um nível mais profundo de seu seguimento.
Os dois que se aproximam de Jesus são, ao lado de Pedro, duas figuras muito significativas no grupo dos doze. São os mais próximos de Jesus. Estavam com Ele na transfiguração, na agonia do horto das Oliveiras. E são justamente esses que na maioria das vezes sofrem a tentação de transformar o seguimento em posse, direito e mérito, esvaziando o espírito da gratuidade. Em vez de servir, procuram ser servidos.
Ao pedido dos dois discípulos Jesus responde: “não sabeis o que pedis. Podeis beber a taça que vou beber, ou ser batizados com o batismo com que serei batizado?” Eles falam de honra vistosa e de glória, quando é tempo de combate, de suportar perseguições, humilhações e sofrimentos por causa do Reino de Deus, que se vela na humildade e na pequenez. É tempo de participar da sorte de Jesus – a sorte do Servo Sofredor, do Crucificado. Esta participação é aludida pelo beber do cálice que Jesus iria beber e ser batizado no batismo com o qual ele seria batizado.
O beber do cálice e o ser batizado se daria na participação da Cruz de Jesus Cristo, no con-sofrer com ele o sofrimento e a rejeição, no com-padecer dele e no com-padecer do mundo. Se antes não sabiam o que estavam pedindo, agora não sabem com o que estão concordando, quando dizem: “podemos”.
3.2. A gratuidade do seguimento
Em sua resposta Jesus volta a insistir numa das teclas mais frequente acerca do seguimento: a gratuidade: “A taça que vou beber, vós bebereis, e com o batismo com que serei batizado, sereis batizados. Quanto a assentar à minha direita ou à minha esquerda, não cabe a mim concedê-lo: isto será dado àqueles a quem foi preparado”.
De um modo velado, Jesus lhes anuncia que eles serão companheiros dele compartilhando de sua sorte de Servo Sofredor, testemunhando com seu sofrimento e com o seu sangue seu amor ao Mestre e àqueles por quem o Mestre iria dar a sua vida: os homens da terra (a “multidão”). Esta participação, no entanto, não garantia nenhum trono ou cátedra no Reino de Deus. Não compete ao discípulo se preocupar com isso. Em todo o caso, o trono ou a cátedra no Reino de Deus não são dados aos soberbos, isto é, àqueles que se engrandecem a si mesmos, inflando-se com presunção e arrogância, àqueles que querem dominar os outros, seja pelo ser amado, seja pelo ser temido; são dados, antes, para os humildes. Como dizia Maria, a Mãe de Jesus, em seu canto: “dispersou os homens que são soberbos pelo pensamento dos seus corações; precipitou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (Lc 1, 51b-52).
Parafraseando Maria, dizia o sábio companheiro de São Francisco, frei Egídio de Assis:
A graça não quer ser louvada e o vício não quer ser desprezado. Isto é, o homem da graça não quer ser louvado nem lhe apetece o louvor humano. E o homem do vício não quer ser desprezado nem ser repreendido; e isto procede da soberba (C. I).
3.3. A sanha do poder versus a serenidade da humildade do servo
Como não podia deixar de acontecer, num grupo que se rege pela sanha do poder, o pedido dos dois discípulos provoca indignação nos outros dez. Jesus, então, aproveita o episódio para, mais uma vez, convocá-los a fazer uma troca, a uma conversão: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Não deve ser assim entre vós. Pelo contrário, se alguém quer ser grande dentre vós, seja vosso servo, e se alguém quer ser o primeiro entre vós, seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate pela multidão”.
Jesus faz um alerta, mostrando que o mundo (isto é, os homens que amam a si a ponto de desprezar os outros e a Deus) se ordena a partir de si, fechando-se à graça do reino de Deus e à fraternidade, e colocando todo o peso de seu ordenamento no poder do mando e do comando autoritário, a modo de ditadura (dicta dura!), como subjugação e opressão, como arbitrariedade, como imposição da força bruta e da violência. “Não deve ser assim entre vocês!”, diz o Mestre. A sua comunidade de discípulos precisa aprender uma outra dinâmica de “convivialidade”, regida pelo amor-caridade (fraternidade) e pela humildade – ser, enfim, uma comunidade de “irmãos menores”.
A sanha do poder de dominação do homem pelo homem faz diminuir a vida, estende o deserto pela face da terra e pelos corações dos homens, põe tudo e todos sob o império da morte desprezando, diminuindo, eliminando, subjugando seus semelhantes e mesmo todas as demais criaturas. A autoridade do amor – que serve à vida e que aparece sem a pretensão do poder de mando e de dominação – é totalmente diferente. Ela leva o homem à alegria do convívio, da festa, do servir; faz crescer a vida, jorrar fontes e brotar oásis pela terra e pelos corações dos homens, irmana a todos na Casa comum do Reino de Deus. O sonho de liberdade e de igualdade, tão presente no mundo moderno, nunca poderá se tornar viável sem a fraternidade, tão bem ensinada e testemunhada por Jesus e exemplarmente encarnada por São Francisco e sua primitiva fraternidade – que ele quis que se chamasse de “ordem dos irmãos menores”. É o que podemos ver nesta passagem.
“Que fogo de caridade abrasava os novos discípulos de Cristo! Quão forte era o laço que os unia no amor do piedoso grupo! Quando se reuniam em algum lugar, ou quando se encontravam na estrada, reacendia-se o fogo do amor espiritual, espargindo suas sementes de amizade verdadeira sobre todo o amor… O fato é que, tendo desprezado todas as coisas terrenas e estando livres do amor-próprio, consagravam todo o seu afeto aos Irmãos… Não queriam exercer ofício algum que pudesse causar escândalo, mas, fazendo sempre coisas santas e justas, honestas e úteis, davam exemplo de humildade e de paciência a todos (1C 39).
No decorrer da história, também a Igreja, muitas vezes, se assanhou com a sanha do poder mundano, esquecendo-se do princípio ordenante originário lançado em suas entranhas pelo mistério de Cristo crucificado. “Cristianismo não diz em seu vigor originário poder histórico de dominação, de exclusão e recusa das diferenças. Ao contrário diz a autoridade da vida e pregação de Jesus o homem de Nazareth” .
O Papa Francisco hoje nos fala de uma Igreja que seja acolhedora e que, num mundo cheio de gente ferida e sofrida, prófuga e apátrida, carente de misericórdia, seja algo assim como um “hospital de campanha”: um lugar de acolhimento dos que sucumbem no combate da vida. Poderíamos dizer: a identidade do cristão está no amor universal – acolhedor de tudo e de todos – e a Igreja expressa esta identidade praticando este amor universal (católico). Ser católico não é ser sectário. Ser católico é ser capaz de acolher a identidade do mistério nas diferenças de tudo e de todos os homens.
Para deixar claro a essencialidade do amor e da humildade entre os seus discípulos, Jesus Cristo fala de “ser servo” do outro. Ele, que sendo o Filho do Altíssimo, se esvaziou de sua glória divina (kénosis) e assumiu a condição humana na forma de servo, ensina aos seus discípulos este mesmo caminho de descenso e de esvaziamento realizado por amor, tão bem ilustrado pelo pseudoisaias na primeira leitura de hoje.
Conclusão
Desprender-se da sanha e do fascínio do autoritarismo e do poder a fim de seguir a serenidade do servo humilde, pobre e sofredor que é Jesus Cristo crucificado é um desafio e uma tentação que acaricia não apenas os dois discípulos que foram pedir a Jesus cargos de mando e de honras bem como todo o grupo dos 12, mas toda a Igreja em quase todos os tempos e isso tanto “in capite” (na cabeça) quanto “in membris” (nos membros).
O Papa Francisco nos alerta para este desafio quando clama: “Não ao mundanismo espiritual!” (EG 93). Segundo ele, este vício “se esconde, muitas vezes, por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja”. Mas, no fundo em vez da glória do Senhor busca-se a glória humana e o bem-estar pessoal. E cita essa bela exortação do próprio Senhor “Como vos é possível acreditar se andais à procura da glória uns dos outros e não procurais a glória que vem do Deus único?” (Jo 5,44). Nietzsche, certa vez, lançava uma crítica dura às autoridades eclesiásticas, dizendo: como se poderá crer no Redentor destes homens não redimidos? Nós poderíamos interpretar: como poderá o mundo crer no Deus crucificado, pobre, humilde e servo de tudo e de todos no amor, a partir do anúncio de homens que não se deixam libertar da sanha do poder? O Papa Francisco continua dando alguns exemplos como: “a pretensão de dominar o espaço da Igreja”, “um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja”. E mais adiante chega a falar que há na Igreja um “fascínio de poder” (EG 94).
Além do mais, nosso Papa aconselha que mostremos testemunhos, exemplos de pessoas que viveram com alegria a serenidade do não poder. E ele mesmo propõe São Francisco e sua primitiva Fraternidade. Ouçamos, então o que dizem nossas Fontes Franciscanas:
“De fato, eram menores, porque eram “submissos a todos”, sempre procuravam o pior lugar e queriam exercer o ofício em que pudesse haver alguma desonra, para merecerem ser colocados sobre a base sólida da humildade verdadeira e neles pudesse crescer auspiciosamente a construção espiritual de todas as virtudes (1C 39).
Fraternalmente,
Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm