fonte: franciscanos.org.br
São Paulo (SP) – Depois de dois anos de reclusão devido à pandemia da Covid-19 e tendo a oportunidade de refletir sobre a Sinodalidade, já que o Sínodo dos Bispos acontece no próximo ano, os franciscanos e franciscanas do Regional São Paulo da Família Franciscana do Brasil (FFB) se reuniram, neste domingo (25/9), no Colégio Franciscano João XXIII, da Congregação das Franciscanas Filhas da Divina Providência, em São Paulo (SP), para também celebrar a fraternidade com a proximidade das festividades do Pai Seráfico São Francisco de Assis.
O tema da Sinodalidade começou a ser desenvolvido já na Santa Missa, às 9 horas, que foi presidida pelo Ministro Provincial dos Frades Menores Capuchinhos, Frei Arcanjo de Sousa Soares, tendo como concelebrantes Frei Agostinho Odorizzi, Ministro Provincial da Terceira Ordem Regular de São Francisco de Assis, que fez a homilia; o Definidor Provincial, Frei Robson Luiz Scudela, OFM, representando o Ministro Provincial Frei Paulo Roberto Pereira; Frei José Antônio Cruz Duarte, OFM, da Fraternidade de Bragança Paulista; e Frei Antônio Corniatti, OFMConv, representando o Ministro Provincial Frei José Hugo da Silva Santos.
O encontro reuniu a Primeira Ordem, a Ordem Franciscana Secular, franciscanos e franciscanas de diferentes Institutos e Congregações e simpatizantes de São Francisco e Santa Clara. “A Jornada Franciscana tem o objetivo de manter vivo em nossos corações ou no interno das nossas congregações ou nossas Ordens esse espírito de unidade, de partilhar a vida, de retomar a reflexão de que é necessário resgatar cada vez mais Francisco e Clara de Assis como uma resposta à fragmentação do tempo presente. Quando nos reunimos para partilhar a nossa vida, nossa história, nossos trabalhos e também colocamos em pauta os nossos desafios, é no espírito de unidade que buscamos caminhos novos para esses desafios do tempo presente”, disse Frei Arcanjo. Alex Sandro Bastos Ferreira, OFS, foi o animador do encontro e o moderador da Mesa Redonda.
“Queremos retomar nosso caminho celebrando esse encontro, fazendo o exercício da sinodalidade entre nós”, disse Frei Agostinho na sua homilia. “Mas, primeiramente e acima de qualquer coisa, queremos externar o sentimento mais comum que vem desde o berço: gratidão a Deus pela Graça de poder estarmos aqui. Ninguém pode iniciar o dia sem antes agradecer a Deus. É assim que aprendemos com nossos pais. E, como franciscanos, rezamos ‘Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado!’ Nós sobrevivemos, mas muitos de nossos irmãos partiram e nos deixaram presencialmente. E muitos se foram não apenas por causa da pandemia em si, mas sim pelo espírito de trevas que se apoderou de nós, tornando-nos indiferentes com o tratar e lidar com a vida, em especial a humana”, lamentou o pregador.
Frei Agostinho lembrou também que esse encontro ocorria justamente no dia em que a Igreja celebra o Dia da Bíblia: “A Bíblia é e sempre será fonte de inspiração e segurança para todos que são apaixonados pela Trindade Santa. Ao mesmo tempo provoca em nós inquietações, porque assim é Deus para os que O temem”.
Ao falar sobre sinodalidade, recordou que, por mais bela e desafiadora que seja a construção de nossa história como franciscano e franciscana, religioso e religiosa, leigo e leiga, e jovem, não pode ser construída e vivenciada no isolamento, para que não se corra o risco de se perder a razão principal de nossa existência, que é a comunhão entre nós, renovando assim o nosso maior patrimônio que é o nosso carisma. “A busca constante da nossa comunhão enquanto família é fundamental para a ação do Espírito Sato de Deus para nos animar e renovar e nos fortalecer na busca de novos caminhos que nos ajudem superar nossas chagas e a caminhar juntos, sentindo a dor das chagas de nosso povo em todas as dimensões de sua vida cotidiana, como a fome, violência, racismo, discriminação, abandono, desemprego… enfim, a dor de tantas dores como as dos enlutados na perda de seus ente queridos pela pandemia ou qualquer tipo de violência tão presente nas realidades de pobreza em nosso país”, denunciou.
“Para que nossa comunhão seja franciscanamente eficaz e sinodal em defesa da vida, como nos propõe o Papa Francisco, faz-se necessário voltar a São Francisco quando este nos chama a viver a prática da perfeição do Evangelho. E voltar a Santa Clara quando esta nos propõe a nunca perdermos o ponto de partida”, indicou Frei Agostinho.
O pregador tomou o Evangelho do dia [que apresenta a parábola de um homem rico sem nome mas que se vestia de roupas finas e dava festas esplêndidas em contraste com o pobre que tem nome e têm dificuldade em se servir das sobras de comida que os cachorros comiam] para citr que o evangelista Lucas dá entender que o rico passou sua vida sem olhar para o estado de vida do pobre. “Ser indiferente com a vida na sua plenitude, sem nenhum peso na consciência e sem o espírito de empatia, é negar a presença do outro, é negar o próprio Deus, algo inadmissível para quem tem o privilégio de ser protagonista no testemunhar a fraternidade universal em comunhão e cuidado com toda a criação e todos os seus mistérios”, alertou, citando o Papa Francisco: “A indiferença causa um abismo intransponível. Não podemos continuar a cavar a vala da indiferença entre nós seres humanos continuar a comprometer toda a criação”.
“Que nossa contribuição enquanto Família Franciscana para o Sínodo como nos é proposto pelo Papa Francisco se estenda também no reconhecer e testemunhar o Cristo ressuscitado na partilha, na solidariedade e na construção de um mundo feito misericórdia para, assim, sempre fugir da tentação da indiferença e do individualismo, buscando amparo na perfeição das palavras de São Paulo quando esse lhe diz a Timóteo: ‘Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão’. E, assim, o nosso carisma franciscano não deixará de ouvir e responder ao grito de São Francisco que ecoa fortemente hoje no ventre da criação: ‘O amor não é amado’”, concluiu Frei Agostinho.
MESA REDONDA SOBRE O TEMA
Em seguida, às 10 horas, começou a Mesa Redonda com o tema “Sinodalidade na Fraternidade Franciscana”, tendo em vista a preparação para o Sínodo 2021-2023, que reflete sobre o tema: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Este tema foi dividido em subtemas, com cinco palestrantes.
Primeiro falou Frei Jose Antônio Cruz Duarte, OFM, sobre “Sinodalidade na Espiritualidade Franciscana, acentuando as relações fraternas”. Segundo o frade, sinodalidade vem da palavra ‘sínodo’, que significa ‘caminhar juntos’, caminhar na mesma direção. “Um símbolo de caminhar juntos é o arco-íris. Cada um com sua cor, com seu modo de vida, mas todos caminhando juntos”, disse. Ele lembrou que o Papa Francisco nos deixa três palavras, que são três verbos, para essa reflexão: Encontrar, escutar, discernir.
Frei Rodrigo da Silva Santos, OFM, secretário da Província Franciscana da Imaculada Conceição, falou sobre “Sinodalidade e a Palavra de Deus”. O Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, de discernimento eclesial, que se faz na adoração, na oração, em contato com a Palavra de Deus.
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Frei Marcelo Toyansk, OFMCap, falou sobre “Sinodalidade e a Casa Comum”, lembrando os ensinamentos do Papa Francisco na Laudato Si’. Segundo ele, a ecologia integral afirma que os humanos são parte de um mundo mais amplo e exige “soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais” (LS 139).
Ângelo e Jaqueline Vaz Rosa, OFS, da Fraternidade São Francisco de Assis, da Vila Clementino, falaram de um tema importante às vésperas das eleições. “Sinodalidade e Cidadania”. Segundo o casal, não basta o católico ser solidário com o próximo, mas é preciso participar na gestão da coisa pública ampliando, com isso, o bem comum. O casal recordou que o franciscano é chamado a ser mais atuante e recordou a Carta aos Governantes do Santo de Assis . “A todos os podestás e cônsules, juízes e governadores em toda a terra e a todos os outros aos quais chegar esta carta, Frei Francisco, vosso servo pequenino e desprezível no Senhor Deus, desejando a todos vós saúde e paz. Considerai e vede que o dia da morte se aproxima (cfr. Gn 47,29). Por isso eu vos rogo com reverência, como posso, que, por causa dos cuidados e solicitudes deste século (cfr. Mt 13,22), que tendes, não entregueis o Senhor ao esquecimento nem vos desvieis de seus mandamentos, porque todos aqueles, que o entregam ao esquecimento e se desviam de seus mandamentos são malditos (cfr. Sl 118,21) e serão por ele lançados no esquecimento (Ez 33,13)”.
E Ana Carlota Vieira, psicóloga e professora, falou da “Sinodalidade na Educação”. O que difere uma escola franciscana de outras escolas formais? perguntou.
À tarde, na segunda parte do encontro, os participantes puderam se reunir em grupos para estudar o tema e tirar as conclusões. Em seguida foi feita a Mística de encerramento e uma apresentação do teatro.
A primeira Jornada Franciscana realizou-se por ocasião do 8º Centenário do Nascimento de São Francisco de Assis. São 39 anos de encontros e reflexão, com a interrupção de dois anos durante a pandemia, sobre a presença Franciscana em São Paulo.
CFFB – Conferência da Família Franciscana do Brasil – Regional São Paulo
Informações: regionalsp.cffb@gmail.com