3º DOMINGO DA QUARESMA – 2020

3º domingo da quaresma

15/03/2020

Pistas homilético-franciscanas

Liturgia da Palavra: Ez 17,1-7; Sl 94; Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42.

Tema-mensagem: No encontro com Jesus a fonte da água viva

Sentimento: adoração

Introdução

Domingo passado com a transfiguração de Jesus, no monte Tabor, celebramos também a nossa transfiguração. Hoje, com o edificante evangelho da samaritana, é oferecida a nós a graça do encontro com Jesus e, assim, podermos, também nós, beber da água que vem da fonte da vida.

  1. No deserto Deus serve a seu povo água tirada de uma rocha (Ez 17,1-7)

A Liturgia da Palavra de hoje começa mostrando o antigo Povo de Deus, em pleno deserto, lutando para sair da escravidão do Egito e assim entrar na terra da liberdade. De repente, sem água e sem fontes, surge a crise: ir para frente no caminho da liberdade, indicado pelo Senhor,  mas tão difícil, incerto e arriscado ou voltar atrás para o caminho da escravidão?

1.1.Em busca da libertação

A liberdade, é, certamente, o maior dom, mas, também o maior desafio, com o qual Deus podia ter agraciado sua criatura predileta, o homem. Este dom, porém, supõe e exige libertação. Ou seja, a liberdade em vez de um fato ou ocorrência exige empenho não apenas para livrar-se de cadeias, jugos, opressões e opressores, vícios e pecados, mas, acima de tudo, luta para liberar-se para o bem, para os outros e, acima de tudo, para o grande Outro que é Deus. Por isso, poderíamos chamar a primeira de “liberdade negativa” ou de “meia-libertação” e a segunda de “liberdade positiva”. A primeira porque seu objetivo maior é apenas livrar-se de fatores considerados negativos, prejudiciais, enquanto que a segunda porque nos conduz para a experência da graça do encontro consigo, com os outros e com Deus.

Por isso, o Êxodo, o livro da saga da libertação, não fala apenas da saída do povo de Israel do Egito, mas, principalmente, de sua luta para entrar no deserto a fim de, assim, liberto, pudesse estabelecer e manter a sagrada aliança com Jahvé e passar de “não-povo” para a rica experiência do encontro como “Povo de Deus”.

1.2.Destruição e aniquilamento

Hoje, principalmente nós ocidentais, vivemos um tempo de deserto, não apenas por causa da destruição da natureza, que grassa em toda a parte, mas, acima de tudo, por causa de um certo aniquilamento, o que é bem pior. A destruição apenas arruína o que é, o que existe. O aniquilamento, ao contrário, exaure o que pode-ser, extinguindo e secando as fontes de criatividade que são dadas ao humano, principalmente, o dom de ser livre para acolher o mistério da gratuidade e a gratuidade do mistério. Por isso, o homem de hoje, a exemplo dos judeus no deserto, não é mais capaz de relacionar-se gratuita, pacífica e amigavelmente consigo mesmo, com o outro dos outros ou o outro de si mesmo, e com o grande Outro (o “Não-Outro”), que costumamos chamar de Deus.

 Como os judeus, outrora, também o homem de hoje vive recalcitrante em sua má vontade, lutando apenas pela “liberdade negativa”, negando-se em assumir a “liberdade positiva” da responsabilidade; negando-se em assumir a graça, o peso e a honra da sua penúria, do seu limite, da sua pobreza. E assim, como os judeus do deserto, também ele vive tomado pela saudade da escravidão dos bens deste mundo e de si mesmo e tentado ao murmúrio e à disputa com os outros e com Deus (Cf. Tentações de Jesus no deserto). 

1.3.Lutar contra Deus e contra todos

Na travessia do deserto, o povo de Israel sofreu as privações da fome (Ex 16), da sede (Ex 17, 1-7), da guerra (Ex 17, 8-16). No contexto destas privações se encontram as famosas tentações de Massá e Meribá. O nome “Massá” vem da raiz “nsh”, que quer dizer tentar, no sentido de pôr à prova, provocar. O povo, ameaçado, tenta o Senhor provocando-O com a dúvida: “O senhor está no meio de nós ou não?” (Ex 17,7). O nome “Meribá” vem da raiz “rib” que quer dizer brigar, entrar em contenda.

Depois de resmungar, provocando a Deus, e brigar contra Deus o povo se volta, também contra seu profeta. Acuado, em sua fragilidade, Moisés exclama: “Que devo fazer por este povo? Mais um pouco, e vão me apedrejar” (Ex 17,4). Expondo-se humildemente nesta fraqueza, recebe do Senhor a promessa de transformar a impossibilidade em possibilidade. Por isso e para isso, conduzido pelo Senhor ao Rochedo no monte santo Horeb (Sinai), recebe a orientação: “Golpearás o rochedo e brotará a água para o povo beber” (Ex 17,6). E assim se fez.

À “não-fé” dos judeus, e de cada um de nós, Deus responde com sua fé, isto é, com a sua fidelidade, com a sua misericórdia e verdade, ou seja, com a confirmação de seu amor gratuito, de sua aliança. Por isso, o salmista de hoje (Sl 94/95), e a Igreja todos os dias, na abertura do OfícioDivino,  nos convidam a exultarmos de alegria no Senhor, a não endurecermos o coração como o fizeram nossos pais em Meribá e Massá no deserto. Na mesma direção nos exorta o apóstolo Paulo, hoje, em sua Carta aos Romanos: A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm 5,8).

  1. Jesus a fonte de água viva (Jo 4,5-42

O que aconteceu outrora com os judeus no deserto, se consuma plena e definitivamente, no Evangelho de hoje, no admirável e edificante encontro de Jesus com a samaritana e desta com Jesus.

2.1. Jesus cansado sentou-se junto ao poço de Jacó

O evangelho começa dizendo que Foi assim que Jesus chegou a uma cidade da Samaria chamada Sicar, não longe da terra dada por Jacó a seu filho José, lá mesmo onde se acha o poço de Jacó (Jo 4, 5-6a). Tudo indica que fervia no coração de Jesus o desejo de não apenas dar continuidade às antigas intervenções de Jahvé em favor de seu povo, mas também de levá-las, definitivamente, à sua plenitude. Este desejo vem assinalado com o ato de Jesus de sentar-se junto ao misterioso poço de Jacó. A mística do poço pode ser intuída neste texto:

“Um poço profundo é misterioso. Olhando diretamente para o escuro interior, podemos observar o cintilar da água lá embaixo, sentir ar frio e húmido, e ouvir ecos estranhos. Estamos ligados, aparentemente, a outro reino misterioso, subterrâneo, submundo, evocativo de nossas próprias profundezas reflectivas desconhecidas…” (Ami Ronnberg (org.). O livro dos símbolos: reflexões sobre imagens arquetípicas. Köln: Taschen, 2012, p. 610).

Hoje, com a desertificação do planeta é preciso saber e querer guardar os poços, as nascentes, as fontes, não só aquelas que brotam da terra, mas também aquelas que jorram do fundo da alma humana; mais do que nunca, cansados, desanimados e desorientados por seguirmos deuses e amores (“maridos”) que nós mesmos fabricamos, e que nos levam a tantos desencontros, divórcios, rachas, brigas, guerras e destruições é preciso saber e querer parar para sentar junto aos poços das vertentes da água revigorante do mistério da gratuidade do nosso humano e do encontro. Além do mais, é preciso, também, saber sentar e esperar, ser paciente como diz a Raposa ao Pequeno Príncipe.

 2.2. Um encontro ousado e atrevido

 De repente, sem nenhuma programação, acontece o inesperado: Chega uma mulher da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse: ‘Dá-me de beber’” (Jo 4,7). Devido as circunstâncias históricas, culturais e religiosas a iniciativa de Jesus pode e deve ser classificada, no mínimo, de ousada, atrevida: “Como? Tu, um judeu, me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?” (Jo 4,9). A surpresa da samaritana é grande, pois como podia Ele entrar em contato com alguém que pertence a um povo impuro e desprezível como o dela, o samaritano? Como pode rebaixar-se e pedir água a uma mulher desconhecida? Aquilo vai contra tudo que é inimaginável em Israel (Pagola, O Caminho aberto por Jesus, São João, pág. 75).  Não esqueçamos, porém, que as necessidades básicas não apenas nos unem e nos convidam a ajudar-nos uns aos outros, deixando de lado nossas diferenças e indiferenças, mas também, “obrigam” a Deus a vir ao nosso encontro.  Além do mais a mulher se surpreende porque Jesus não fala com a superioridade própria dos judeus diante dos samaritanos nem com a arrogância dos homens para com as mulheres (idem).

Além do mais, no pedido de Jesus esconde-se uma interpelação para o encontro. Pedindo de beber a ela, Jesus doava-lhe a chance do encontro: “Se conhecêsseis o dom de Deus (ten dorean tou theou) e aquele que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva” (Jo 4, 10).

2.3. Jesus fonte de água viva

A mulher, com sagacidade, inquisitiva, pergunta: “Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa água viva? Serias maior do que nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e seus animais?” (Jo 4, 11). O inesperado encontro já estava produzindo seus efeitos. Por isso, agora a mulher honra Jesus chamando-o de “Senhor” (Kyrie). No entanto há algo de estranho. Parece que Jesus está falando de outra água, de outra fonte bem melhor e muito superior a esta. Então, ele seria maior do que o Pai Jacó? Jesus, de fato, indiretamente, deixa entender que é isso mesmo. Fala da melhor dádiva que ele tem a oferecer, discorre sobre a excelência da água que ele, qual fonte, pode lhe dar, pois “Todo aquele que beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que lhe darei se tornará nele uma fonte que jorra para a vida eterna” (Jo 4, 14). São João Crisóstomo comenta: aquele que tem uma fonte jorrando perenemente dentro de si não pode se afligir com a sede. A água viva, isto é, fluente, corrente, dinâmica, que Jesus oferece é o Dom do Espírito que, infundindo-se na alma do homem mediante a graça do encontro, comunica a vida eterna.

Quando a Escritura usa os termos “água”, “fogo”, ou “vento” para nomear o Dom de Deus, que é o Espírito Santo, tem em mente sua ação, sua operação. Água viva significa água não parada, não estagnada, poluída, morta; água que jorra límpida, casta, generosa, água que, como uma fonte, abnegando-se e dando-se inteiramente, deixa e faz surgir de si um manancial perene, que sacia a sede dos viventes, que transforma os desertos em terras verdejantes e ricas em frutos. Também Paulo recorre a este modo  de ser da água para falar do Espírito Santo: o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5). E isto para o homem é tudo: a vida eterna.

2.4. Os diversos maridos

Provocada à sede desta nova água, a mulher não resiste: “Senhor, dá-me desta água para que eu não tenha mais sede e não precise mais vir aqui tirar água” (Jo 4, 15). Ela desejava libertar-se da premência, da penúria, da necessidade de cada dia, sempre de novo, ter que ir ao poço buscar água a fim de saciar sua sede. O desejo leva-a a abrir-se à oferta de Jesus e entrar num processo de libertação da mentira e da falsidade. Aberta a porta da confiança, Jesus prossegue: ‘Vai, chama o teu marido e volta aqui’. A mulher respondeu: ‘Eu não tenho marido’. Jesus lhe disse: ‘Tu dizes bem: ‘não tenho marido’; tiveste cinco, e o que tens agora não é teu marido. Nisso disseste a verdade’” (Jo 4, 16-18). A mulher desejava esconder-se, esquivar-se de Jesus, por isso disse: “não tenho marido”. Mas aos olhos do Verbo todas as coisas estão descobertas. Mesmo a escuridão da noite, para Deus, é clara como o meio dia. A clarividência de Jesus a respeito dela, de sua vida, de sua história, lhe surpreende. A mulher pressente: este homem só pode ser um profeta.

Numa leitura simbólica, figurada ou alegórica, a mulher e os seus cinco maridos, tem a ver com a idolatria, prestar culto a deuses estranhos, é algo assim como uma infidelidade, uma traição ao amor do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, o Deus que se revelou como “Eu Sou” (IHWH); é cultuar como deus o que nada é e abandonar o “Eu sou”; é, pois, algo como cometer um adultério em relação ao “Único”, ao amor. Seriam, pois, os cinco maridos uma alusão aos cinco deuses que o povo daquela região adorava (cfr. 2 Rs 17, 29-41)? No mesmo sentido, mas em outro horizonte, corre a interpretação dos Padres da Igreja. Para Orígenes, os cinco maridos seriam os cinco livros da Lei, que os samaritanos adotavam. O sexto, que não é propriamente marido, seria a interpretação errônea da mesma Lei. O Cristo seria, então, o sétimo e o verdadeiro, único e último “marido” da comunidade do povo samaritano. Ele a iluminaria com o seu Evangelho. Santo Agostinho entende que os cinco maridos estão para a mulher como os cinco sentidos estão para a alma humana. O homem não pode adorar o Deus Único sem se desprender dos seus cinco sentidos, isto é, da comunhão com o que eles fazem acessar e gozar. A alma também precisa se desprender do sexto marido, que não é propriamente marido, a saber, as interpretações, a mera opinião ou o erro de juízo.  A alma precisa, pois, ir buscar o seu marido, isto é, o intelecto, para poder abrir-se ao mistério que Cristo lhe revela. Ao dizer à mulher: vai buscar o teu marido, Cristo está dizendo a cada homem: sai do pequeno eu da tua subjetividade, vai para dentro da tua alma, do teu eu mais profundo, busca o teu intelecto, isto é, o teu entendimento, para poder abrir-se na escuta dos mistérios que tenho a te revelar.

2.5. Vem a hora dos verdadeiros adoradores

Chegamos, assim, ao auge da narrativa. A graça de uma centelha divina, misteriosa, começa a faiscar na mente da mulher: “Senhor, vejo que tu és um profeta” (Jo 4, 19). De repente, percebe que estava diante de um “homem de Deus”, um vidente, um anunciador, um porta-voz de Deus, um profeta. Admirada, ela se detém, e persevera nas suas perguntas. Mas, tem um problema: a divergência na compreensão do culto entre samaritanos e judeus: “Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar” (Jo 4, 20). Jesus, então, a eleva para o verdadeiro monte da adoração do Deus Único, o Deus dos Pais Abraão, Isaac e Jacó.

Crê-me, ó mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis: nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (Jo 4, 21-24).

Jesus diz duas vezes “vem a hora”. Uma vez diz: “vem a hora” e depois diz: “vem a hora e é agora”. Para Orígenes, a hora em que o homem adorará a Deus sem estar circunscrito a nenhum lugar é a hora da eternidade introduzida no tempo e na história dos homens por Jesus, mediante sua encarnação-morte e ressurreição; a hora em que o homem adora a Deus interiormente, no templo do Espírito Santo. Uma adoração “em espírito e em verdade”; uma adoração a Deus não simplesmente como Deus, mas como Pai. Adora-o, pois, como filho e não como mercenário ou escravo. Adora-o “em espírito e verdade” – “em espírito”, isto é, na interioridade de sua mente, envolvendo sua memória, seu intelecto e sua vontade.

São Francisco de Assis, numa de suas Admoestações diz: O Pai habita numa luz inacessível. O espírito é Deus e a Deus ninguém jamais viu. Por isso, não pode ser visto senão no espírito porque é o espírito que vivifica. A carne para nada serve. (Ad I).

No fundo, o que São Francisco está dizendo é que nunca poderei conhecer Deus como Pai a partir de mim, de meus esforços, estudos e conhecimentos, enfim da carne, mas tão somente se me tornar filho Dele mediante um encontro pessoal direto e imediato, isto é, na medida em que deixar me deificar pela graça do seu encontro.

Depois de cinco falas, a mulher, agora, realiza a sexta, que é a mais decisiva: “Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam ”Cristo”. Quando ele vier, anunciar-nos-á todas as coisas” (Jo,4,25). E Jesus lhe diz abertamente (coisa que não fez com os judeus): “Sou eu, eu que estou falando contigo (Jo 4,26). Podemos ler também: “Eu sou”. Foi assim que Deus, outrora, se revelou a Moisés – como “Eu sou” (Ex 3,14). E ao receber esta revelação a alma desta mulher se ilumina. O que antes era uma centelha agora se torna um incêndio que arde e ilumina seu coração.

 2.6. Discípula-missionária

Com a chegada dos discípulos, a conversa se interrompe. E a mulher vai para a cidade, e, com coração ardente, anuncia-O aos seus habitantes. Mal entrara no discipulado de Jesus e já se tornava uma apóstola-missionária. Ou seja, é impossível ser discípulo sem ser anunciador, testemunha da pessoa amada. Por isso, ela deixou o cântaro no poço, como os Apóstolos deixaram suas redes na praia. Agora não precisa mais nem de cântaro e nem de poço porque trazia dentro de si uma fonte de água viva. Assim, inflamada de fogo divino, convidava vizinhos e concidadãos a virem a Jesus. E realiza com habilidade o seu testemunho. Não diz logo que encontrou o Messias, que também eles esperavam, para não os espantar. Contou-lhes sua experiência de encontro e sua descoberta. Não só lhes falou de sua iluminação, mas ela mesma mostrou-se toda luminosa, iluminada. Por isso, com justiça, a tradição bizantina chamou-a de “Photine” (Fotina), de “Hagia Photine” (Santa Fotina), que quer dizer: “Santa Luminosa”. Nós, de tradição latina, poderíamos chama-la de “Clara”, “Santa Clara(!)” – que seria uma homenagem também à virgem Clara de Assis. O rosto luminoso e a palavra ardente de seu testemunho lhes bastaram. Eles nem precisaram ver milagres. Bastou dizer-lhes: “Vinde e crede!” (Jo 4,29).

Enquanto isso, os discípulos chegaram e, depois de certo estranhamento, entabularam uma conversa com Jesus acerca de comida. Jesus, porém, falava-lhes de uma comida que ele tinha e que eles não conheciam. Mas, assim como ao falar da água viva a mulher não compreendia, assim também ao falar da comida desconhecida os discípulos não conseguiam compreender. Contudo, se a mulher fora conduzida de etapa em etapa no caminho ascensional da compreensão e do discipulado, os discípulos são levados diante da verdade pura e imediata. Jesus, de fato, lhes diz sem rodeios: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis… O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34). Assim, o cumprimento da vontade do Pai – que é amor – se dá na vida e nas obras, e, sobretudo, na paixão e na morte de Jesus.

 Conclusão

A sede do Pai pelos seus filhos, dispersos e sem pátria, levou Jesus à Samaria, terra dos gentios, à samaritana e aos samaritanos. Hoje, é a nós que ele vem para oferecer-nos a água viva deste seu desejo, o desejo do Pai: uma água viva que transforma o deserto do planeta e dos homens em terra fecunda onde cresce o seu Reino, o Reino do céu no meio da terra.

Oxalá, como eles e como São Francisco, também nós, jubilosos, saibamos dobrar nossos joelhos e dizer: Nós vos adoramos, santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo”.

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm