28º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 2020

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

Pistas homilético-franciscanas

 

Leituras: Is 25,6-10a; Sl 22 (23) 1-3ª.3b-4.5.6;  Fl 4,12-14.19-20; Mt 22,1-14

Tema-mensagem: Felizes nós, os convidados para o banquete nupcial do Filho do Rei (Deus Pai), quando não o recusamos em nome de nossos trabalhos e negócios, mas quando, aceitando-o, somos revestidos da gratidão e da alegria da graça do encontro.  

Sentimento: gratidão e alegria

  Introdução

Como no domingo passado, com a parábola dos vinhateiros homicidas, também neste, de novo, a Igreja celebra o desejo e o empenho de Deus de criar conosco e com toda humanidade uma comunhão, uma aliança de profunda intimidade e familiaridade. Eis o mistério da celebração de hoje. Para tanto, ouviremos a parábola do Rei que convida todos para a festa de casamento de seu filho.

  1. Dos convidados dignificados pelo Rei que se tornam indignos e assassinos (Mt 22,1-14)

 

Num primeiro momento os convidados são avisados de que a festa está pronta, mas eles recusam o convite. Num segundo, diante da recusa dos primeiros, o convite é levado a todos os que forem encontrados pelos caminhos e encruzilhadas, bons e maus, até que a casa fique completamente cheia. Entre os dois, há ainda o momento da indignação do Rei, e no fim a descoberta de um amigo que havia se infiltrado sem a veste nupcial.

Passemos, aos personagens do primeiro momento.

  • Do Rei que prepara o banquete

O banquete, mais que uma simples refeição em comum, expressa e celebra o mistério da graça do encontro que leva as pessoas a se tornarem parceiras, isto é, partes de um todo do qual comungam; companheiras, ou seja, pessoas que comem do pão da mesma afeição, do mesmo amor (no latim “cum” + “panis”: com + pão > companheiro). Enfim, pessoas que, pela dedicação e operação, assumem o mesmo projeto de vida e se responsabilizam pelo seu desdobramento, como acontece, por exemplo, no casamento. 

Por isso, de modo geral, o banquete sempre simboliza a comunhão e a participação num grupo, ou sociedade, como, também, sempre revela um “quê” de sagrado, misterioso e divino, algo que ultrapassa os indivíduos que a ele se reúnem e se agrupam. Já, na esfera religiosa, o banquete adquire também o sentido de sacrifício e de comunhão do homem com Deus e de Deus com o homem. Por isso, nos ritos religiosos, o oferente dividia o animal sacrificado entre ele e o sacerdote e comia a sua parte com sua gente, sua família. Dessa forma, sentavam-se à mesa com Deus, celebravam a sua pertença ao círculo familiar de Deus e renovavam com Ele os laços de paz, de harmonia, de comunhão (Cf. Lv 3).

O Rei da parábola, evidentemente, não é outro senão Deus, o Pai de Jesus e nosso Pai. No judaísmo sempre se compreendeu Deus como um Rei que viria para pôr de pé, reger, erigir, dirigir, corrigir seu Povo eleito, levando-o sob sua regência à consumação de povo perfeito, livre e soberano.

No fundo, no coração desta parábola, está o mistério da encarnação: o casamento de Deus com a humanidade. Diante deste mistério, o Homem Rei, o Pai, promoveu uma festa de bodas para o Filho Rei. Diz-se bodas, núpcias, no plural por ser um tempo de alegria superabundante, superfluente! Assim, os dias em que Jesus permaneceu entre os homens em sua vida terrena eram dias de bodas, de júbilo e não de jejum ou tristeza (Mt 9,15).

São Francisco chama esse mistério de “Sacrum Commercium”, um comércio sagrado. Para Ele, a encarnação é algo como núpcias: mistério de casamento, união e “comungação”. Do grande benefício deste evento assim se expressa Mestre Eckhart: “O bem, o maior de todos os bens, do qual Deus deixou o homem participar, foi o de ter se tornado homem”.

  • Dos convidados que recusam o convite preferindo seus campos e negócios

Como as parábolas dos dois filhos teimosos (Mt 21,28-32) e dos vinhateiros homicidas (Mt 21,33-43), também esta tem endereço certo: “os sumos sacerdotes e anciãos do povo”, os líderes religiosos, enfim, e não o grande público, os pecadores como os publicanos, os pagãos, as prostitutas, etc.

Quando tudo estava pronto, o Rei mandou seus servos chamar os convidados. O convite para a festa fora feito desde Abraão e desde o tempo da Lei. Os servos podem ser comparados com os profetas que foram rejeitados. Mas, o Rei não desiste. Envia outros que, para alguns Padres da Igreja, seriam os Apóstolos enviados “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 5). Mas, de novo, os convidados não quiseram participar da alegria do festim nupcial, preparado por Deus para seu povo eleito.

Um primeiro grupo de convidados responde com o desprezo. Tinham algo bem mais importante a fazer: cuidar de seus campos e negócios. “Campos” significa o âmbito do trabalho das mãos humanas. Preferir os campos, aqui, tem, pois, o sentido de desprezar o convite para a comunhão graciosa com Deus a partir da supervalorização dos méritos humanos. Ah, nossos campos, hoje, o que seria, senão aquele modo de ser de um coração comodista e mesquinho, centrado numa busca desordenada de prazeres superficiais; de um coração que se fecha nos próprios interesses, sem espaço para os outros, onde nem os pobres  e nem Deus podem entrar (Cf. EG 2); aquele modo de ser, denominado pelo Papa Francisco,  de autoreferencialidade e  de “mundanismo espiritual” pelo qual “se busca mais a glória humana e o bem estar pessoal” do que Jesus Cristo e seus pobres (EG 93-107)?

Já, o ir para os negócios quer dizer a ganância com as trocas. O negócio, movido pela cobiça de ganho nas lidas com o “capital”, não se ocupa com o trabalho das próprias mãos, mas com o resultado do trabalho das mãos alheias. Pensemos na especulação financeira, na cobiça do lucro que seduz e escraviza os homens. O Pseudo-Crisóstomo traz uma exclamação que muito sentido faz para o mundo de hoje: “Oh mundo miserável! E desgraçados os que o seguem! Muitas vezes os trabalhos do mundo alienam os homens da verdadeira vida”.

 É o mundo que esqueceu o Reino da Gratuidade do amor divino pelo homem; que abandona a alegria da festa pela aflição do trabalho e do lucro. É um mundo triste com pessoas tristes. Até mesmo sua alegria é triste. Suas festas são insossas, sem graça. A diversão se torna entretenimento – divertimento que assola e desola o espírito, na fuga da angústia da vida. Já para o homem que vive no Reino da Gratuidade, tudo é alegre, gracioso, até mesmo sua tristeza. É que a dor do homem, que vive neste reino, o concentra no essencial da vida e o põe junto à fonte da jovialidade. Que o diga São Francisco de Assis, o cavaleiro da Senhora Pobreza! O arauto do grande Rei, o homem da perfeita alegria!

  • Dos convidados que maltratam e matam os enviados do Rei

A resposta dos primeiros convidados foi violenta: “Agarraram os empregados, bateram neles e os mataram” (Mt 22,6). Não há como não ver aqui uma alusão muito clara aos que mataram João Batista, Estevão, Tiago… E mataram o próprio Filho do Rei: Jesus, o Cristo.

Mas, não há como não ver, também, nosso mundo voltado para a loucura de só trabalhar, lucrar e gozar a qualquer custo, principalmente dos outros. Um mundo violento. Uma violência que se volta especialmente contra os mensageiros das núpcias que são as humildes e inocentes criaturas, os pobres, a grande massa de trabalhadores que sustentam a riqueza, a fartura, a exploração, o mando e desmando de poucos. Uma violência contra o Filho Rei e contra o Pai Rei. É o mundo que mata Deus. De fato, se a vida de Deus consiste em doar, e se o homem recusa sua oferta graciosa de si mesmo, então o não do homem para Deus quer dizer a morte de Deus na história do homem (anunciada pelo homem tresloucado da Gaia Scienza – Ciência Jovial – de Nietzsche). Mas a morte de Deus traz em si já a agonia do homem. Pois o homem não pode viver sem a origem da vida. Deus é vida da vida do homem. Matando Deus em si o homem comete suicídio. Hoje, vivemos um suicídio humano planetário, um suicídio lento, que se torna um atentado contra a vida na Terra e da Terra. O homem mata Deus, matando aos poucos os rios, as florestas, o planeta, a vida e as pessoas. Deus morre nesse mundo não de morte natural, mas de morte violenta. A violência, portanto, do homem para com Deus, redunda na violência do homem para consigo mesmo. A morte de Deus redunda na morte do homem.

  1. Do Rei e de sua indignação

A magnanimidade e a longanimidade do Rei, porém, dá lugar à justa ira. “O Rei enfureceu-se; enviou suas tropas, fez perecer os assassinos e incendiou-lhes a cidade” (Mt 22,7). Seria este versículo um acréscimo adicionado à parábola depois dos anos 70, quando os exércitos romanos, capitaneados por Vespasiano e por Tito, destruíram a cidade de Jerusalém? Profecia ex eventu,  isto é, nascida, tirada do acontecimento, “post factum”  (depois do fato)? São Jerônimo recorda-se do incêndio que levou Jerusalém à ruína naquela ocasião. Um castigo divino? (Cf. Canto da Vinha em Isaías 5,1-7, proclamado no Domingo passado).  Em todo caso, aqueles que não se mostram dignos do convite gratuito, clemente, benevolente de Deus se excluem, eles mesmos, da sua alegria e da sua paz… Talvez seja este o último recurso oferecido pelo Rei para a conversão destes seus amigos que se fizeram indignos.

  • Dos convidados indignos que o Rei torna dignos

O Rei Pai, porém, não desiste da festa de seu Filho. Vai em busca de outros convidados. Manda seus servos, seus mensageiros, agora, às fronteiras do território, às “saídas dos caminhos”. Manda-os, pois, às estradas que confinam com o estrangeiro e às veredas oriundas dos campos. É o anúncio da universalização do seu Reino: os gentios, os pagãos (Cf. Isaías). A recusa de Israel, como diz Paulo, foi a causa da salvação de todos os povos. O mesmo Paulo estava seguro de que Deus nunca desistiu de Israel e que sua salvação seria a consumação do Reino. E exclama: “Ó profundeza da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus julgamentos e impenetráveis os seus caminhos!” (Rm 11, 33).

Entretanto, o que seriam “as saídas até as encruzilhadas das estradas” (Mt 22,9) para onde os servos são agora enviados? Para o Pseudo-Crisóstomo, seriam os caminhos humanos, aqueles lugares em que estes podem se encontrar com a fé. Um exemplo disso seria, para ele, a filosofia. Filósofo, seria aqui, o homem que, a exemplo de Santo Agostinho ou de Francisco, atento às inquietações de seu coração, busca o sentido de tudo o que o rodeia, para além de suas aparências imediatas, utilitaristas e pragmáticas.

Mas há outros e muitos caminhos em que o homem tem que cruzar e curtir quando leva um pouco a sério o sentido de sua vida, da história dos homens, como, por exemplo, a doença, a velhice, a pandemia, as guerras, os assassinatos; mas há também as calamidades da natureza como os terremotos, os tsunamis, etc.  São todas encruzilhadas, cada uma com sua saída, onde os mensageiros do evangelho de Cristo podem e devem fazer o anúncio, o convite para a comunhão e a participação na alegria de Deus com as núpcias do seu Filho. O verdadeiro crente não pode jamais pensar que a perversidade do mundo seja mais forte ou maior que a fé dele.

“Então, os servos partiram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons”. Fora do povo eleito, havia os homens bons e maus. Bons seriam os pagãos ou aquelas pessoas que, sem nenhuma religião, sem Deus se empenham em ouvir e seguir corretamente as leis da natureza e da sua consciência. Pois, quem se esforça para ler e seguir bem os princípios que regem a criação, cedo ou tarde, encontrará a lei de seu Criador, o próprio Rei e Pai.

Maus, por sua vez, seriam aqueles que, além de não crerem nem se esforçarem para seguir nenhuma divindade ou religião, também não observam as leis da natureza. Por isso, dominados pela violência dos instintos, são capazes dos crimes mais hediondos como a pedofilia, a formação de quadrilhas para saquear o dinheiro público, a formação de redes de prostituição, de tráfico de drogas, de órgãos humanos e de crianças. Pois bem, diz o Rei, quero todos para a festa, para o banquete de casamento de meu Filho, formando assim, a minha nova e grande Família, meu novo Povo eleito, a Igreja Católica, isto é, a assembleia universal dos convidados do Reino.

     Portanto, o que caracteriza o novo Povo de Deus será o fato de todos – bons e maus – serem chamados e não o de serem bons por seus méritos como pensavam, pretendiam e exigiam os líderes religiosos de Jerusalém.  Há, porém, uma condição, na verdade, única, para entrar, pertencer a este Povo e comungar da Festa e do banquete preparado pelo Rei: dizer “sim” ao seu chamado.  Dizer sim significa converter-se para a graça e a bondade do Rei. Pois, o cristianismo é mais, ou melhor, é outra coisa que um humanismo superdesenvolvido, perfeito. É de outra raiz ounquilqte. Em vez dos próprios méritos, é fruto, vida da graça. Assim, os que aceitam o convite da Graça e da Misericórdia divina formam o novo Povo de Deus, a Igreja.

Dizer “sim” significa, evidentemente, converter-se, isto é, sair de seu mundo e entrar para a esfera da gratuidade do encontro daquele que nos amou por primeiro; é, para os primeiros, os bons, deixar de se basear na própria bondade e para os segundos, os maus, deixar de serem maus.  Todos, enfim, devem desprezar os pretensos méritos, a própria santidade, para prezar a santidade de Deus, diante de quem ninguém é bom, ninguém é santo. Um só é o Bom: Deus. Aqui só vale a Graça e a vida segundo a Graça e na Graça. O melhor modo, porém, de ser grato à Graça é fazê-la frutificar em boas obras.

  • O homem infiltrado sem a veste nupcial

No final da parábola, aparece um homem um tanto misterioso, infiltrado no meio dos convidados, sem a veste nupcial. Quem seria, como entendê-lo, o que significa estar na festa do casamento de Deus com os homens sem o traje nupcial?

Entre as inúmeras respostas ou propostas, eis algumas. Poderia ser alguém que abraçasse a fé sem abandonar a malícia do coração (Orígenes) ou sem ter a caridade e suas obras (Gregório Magno) ou que buscasse a própria glória e não a do Esposo (Agostinho), ou ainda, que confessasse a fé, mas, ao mesmo tempo, resistisse à graça do Espírito Santo, não permanecendo íntegro até o fim. Mas, talvez, poderíamos dizer, também, que significaria aquele que é convidado a comungar da jovialidade da graça da comunhão e não se deixa animar por esta mesma jovialidade, teimando em viver triste, sem a alegria do Evangelho.

São Jerônimo observa que o Rei chama aquele homem de “meu amigo”. De fato, neste caso, o cristão é amigo de Deus pela confissão de fé, pelo batismo, mas pode não o ser pela ausência de virtudes, de obras do amor e, principalmente, pela ausência da alegria do Espírito Santo. Neste caso, o cristão acaba se excluindo do banquete crístico, e assim, atado por seus pecados e por seus maus desejos merece ser lançado nas trevas exteriores. São Gregório Magno diferencia: as trevas interiores é a cegueira da alma; as trevas exteriores é a pena infernal – poderíamos dizer: a morte segunda de que fala São Francisco, em seu Cântico das criaturas. É a desolação de uma morte sem morte e de uma vida sem vida. Desespero que se fecha em si mesmo (choro e ranger de dentes). Cabe, pois, ao homem decidir: ou a alegria da fé e do amor ou o desespero de uma vida isolada, sem comunhão (EG 2).

  • A conclusão da parábola

A parábola termina com o famoso dito: “muitos são os chamados, poucos os escolhidos” (polloì gár eisin kletoì olígoi dè ekletoí). Não basta estar na Igreja, no sentido da reunião dos chamados, da assembleia (Ekklesía) dos convidados. É preciso aí permanecer de modo digno do chamado recebido.

Na verdade, “muitos” significa todos, sem exclusão de quem quer que seja. Mas poucos são os que fazem por se merecer a dignidade do chamado; poucos de fato se tornam, se fazem dignos, a ponto de adquirirem a veste nupcial do Filho do Rei. Pois, mais que uma confissão de fé, ser cristão é uma questão de prática do amor, da caridade, da misericórdia e do perdão. O distintivo real, a identidade diferencial, do discípulo de Cristo –  a veste nupcial – não é a confissão de fé, mas o “agápe”, a caridade e seus frutos. Muitos correm num estádio, mas poucos são os que chegam até o fim. Cuidemos então que estejamos entre estes.

  1. O banquete messiânico do profeta Isaias (Is 25,6-10)

Na primeira leitura de hoje, Isaias, em sua visão profética, anuncia um “banquete oferecido por Deus no monte santo de Jerusalém, para todos os povos” (Is 25,6). É o banquete da vida eterna, da imortalidade, da comunhão com Deus que os torna íntimos, familiares Dele. Nesse “banquete” serão servidos “manjares suculentos”, “comida de boa gordura”, “vinhos deliciosos” e “puríssimos” (v. 6). É a superabundância da gratuidade de Deus se manifestando e se oferecendo aos homens. Eles, os pobres mortais, são convidados a se enriquecerem com a riqueza de Deus e a receberem o dom da imortalidade. Sim, pois neste banquete “o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações” (Is 25,7), a morte, seria retirado. Consequentemente, a alegria da plenitude da vida é a grande dádiva deste banquete. Deus consola os homens que vêm a este banquete enxugando-lhes as lágrimas, retirando-lhes o opróbrio porque ele mesmo se faz sua comida, sua bebida: o “banquete messiânico”, crístico. Daí a conclusão: “Vamos alegrar-nos e exultar” (Is 25,9).

  1. Tudo posso no bom Pastor que me conduz e sustenta (Sl 22/23 e Fl 4,12-14.19-20)

Fazendo eco a esta profecia o salmista de hoje (Sl 22 ou 23) mostra confiança no Senhor, como uma ovelha em seu pastor. Sabe que o seu Pastor o conduzirá às fontes de águas refrescantes e dará conforto à sua vida. Confia-se à sua guia, pois Ele sabe que não o deixará desamparado e que lhe oferecerá o banquete da vitória.

O mesmo eco de estar na vida, no mundo, tomado de alegria, porque cuidado e protegido por aquele que nos escolheu e amou por primeiro, vem decantado por Paulo, no trecho de sua Carta aos Filipenses proclamado hoje: “Sei viver na miséria e sei viver na abundância…” (Fl 4,12). Pois, “tudo posso naquele que me dá força” (Fl 4,13).

Conclusão

O homem de hoje, diz nosso Papa, corre o risco de tornar-se cada vez mais um homem triste por causa de sua obsessão pelo lucro e pelo consumo e pelo trabalho em si. Exorta-nos, então que o enfrentemos com o antigo ensinamento da Bíblia: “Quanto menos, tanto mais!” É possível, diz ele, necessitar de pouco e viver muito, sobretudo quando se é capaz de dar espaço a outros prazeres, encontrando satisfação nos encontros fraternos, no serviço, na frutificação dos próprios carismas, na música e na arte, no contato com a natureza, na oração. A felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem… (LS 222-223).

Mas para tudo isso é preciso converter-se, isto é, sair e transportar-se para além dos seus “campos” e “negócios”; é preciso deixar de ser bom a partir de si, deixar de ser mau, deixar de ir matando aos poucos as criaturas, a si mesmo e a Deus, deixar, enfim, sua autorreferencialidade e egocentrismo –  para abrir-se à festa do banquete da gratuidade do encontro ou ao encontro da gratuidade com seu eu mais profundo, com Deus e com suas criaturas.

Não deixemos que roubem a alegria da liberdade dos filhos do grande Rei.

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm