fonte : CFFB
Nos dias 18 e 19 de novembro, aconteceu um encontro nacional da Articulação Brasileira da Economia de Francisco, na PUC-São Paulo, com a presença de mais de 300 participantes, dentre os quais vários franciscanos e representamos neste encontro a Comissão JPIC dos frades capuchinhos do Brasil. Este encontro foi em vista do encontro global a se realizar em março de 2020, em Assis, Itália, convocado pelo Papa Francisco e intitulado por ele de “Economia de Francisco”, em referência a São Francisco de Assis, que “se despojou de todo o mundanismo para escolher Deus como estrela guia de sua vida, tornando-se pobre com os pobres e irmão universal. Sua escolha da pobreza também deu origem a uma visão da economia que permanece muito atual” (Mensagem do Papa Francisco).
Nestes dias, em São Paulo, buscamos compreender a proposta deste “pacto global”, urgente e inadiável, ao qual o Papa nos chama, e não somente aos que têm o “dom da fé”, mas a todos de boa vontade. Não é proposta alternativa, mas de sobrevivência, pois o modelo econômico vigente está levando o Planeta ao colapso e a uma extrema concentração de riqueza nas mãos de cada vez menos pessoas, junto a um crescimento escandaloso da miséria em todo o mundo. Numa das falas iniciais, o sociólogo Michel Löwy trouxe a gritante desigualdade social: 5 megabilionários com os mesmos recursos que metade da população mais pobre mundial (3,5 bilhões de pessoas), o que é gerado por este sistema capitalista que acumula os lucros a todo custo, sem limites. O capitalismo atual, em sua fase rentista e especulativa, é a estrutura perversa que produz isso, em detrimento da dignidade humana, do meio ambiente e da ética. É urgente, ressaltou, mudar o paradigma da civilização atual.
Célio Turino, do Instituto Casa Comum, reforçou as palavras do Papa de que é preciso “re-almar” a economia, trazer alma às relações econômicas, que hoje, em geral, são relações frias de compra/venda, exploração e especulação financeira que matam e devastam. A especulação é a forma cruel, improdutiva, injusta e ilógica, pois está levando o Planeta ao suicídio. Para se ter megafortunas se expropria bilhões de vidas! A humanidade sobreviveu até hoje graças à colaboração e não à competição. A mudança da economia requer uma mudança cultural, no pensar, por isso, repensar a economia!
Dentre muitas outras falas, destacamos o conhecido economista Ladislau Dowbor. Ele destacou, por exemplo, que no mundo temos 400 mil assassinatos por ano, o que evidencia o ser humano que mata o próprio ser humano. Trouxe que hoje há muita riqueza no mundo, e o grande problema é a má distribuição, é um problema de organização social. A riqueza do mundo hoje poderia propiciar a toda família, no Planeta, 15 mil reais de renda por mês! A concentração de renda nas mãos de poucos é crescente, por exemplo, no Brasil nos últimos 7 anos, o número de bilionários praticamente triplicou, e em 2012 tinham 340 bilhões, hoje estes bilionários tem 1 trilhão e 200 bilhões, e sem produzir nada, sem gerar emprego (aliás, cortando os empregos), e obtêm a riqueza só pela especulação financeira! Isso através da economia extrativista e apropriação pela especulação, pelo juros. O sistema econômico serve a quem não produz nada, só especula. Esses juros são imorais. Estamos destruindo o Planeta por interesses de uma minoria. Enquanto na COP de Paris, em 2015, se destinava US$ 100 bilhões para enfrentar às mudanças climáticas, os paraísos fiscais movimentam US$ 20 trilhões! 200 vezes mais para especulação do que para salvar a vida, o Planeta!
Dowbor ainda ressaltou termos de resgatar o controle do dinheiro. Também de que o PIB é uma cifra ideologizada, pois mede só o crescimento econômico, sem se preocupar se este é a partir da destruição ambiental, ou da venda excessiva de serviços e produtos que fazem mal a vida humana… Tem de se repensar isso. A economia precisa ter uma visão mais integral, contemplando e partindo dos problemas reais da humanidade, o que não acontece hoje. É necessário rever também os currículos dos cursos de economia e afins, incluindo uma preocupação mais humanista.
Houveram outras muitas contribuições, de várias lideranças religiosas, economistas, organizações populares, lideranças locais, dentre as quais as Scholas Occurentes (uma nova educação para uma nove economia) e iniciativas de economias solidárias e de “bancos comunitários”, geridos pela organização popular, revertendo os benefícios ao povo, e não a poucos bilionários, donos de bancos famosos, que exploram hoje através do sistema financeiro sem medida. Por fim, os participantes se reuniram também em grupos para aprofundar as temáticas da Economia de Francisco, organizar articulações locais e regionais em vista de repensar a economia e fortalecer iniciativas mais populares, ecológicas, circulares, que promovam realmente a vida, humana e do Planeta.