Que Igreja para os jovens?
Refletir sobre o tema dos jovens é sempre fascinante. Certamente tarefa desafiadora. Trata-se de empreendimento que exige discernimento. O Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa Francisco para refletir sobre o tema, fez o seu caminho. Qual é a verdadeira identidade dos jovens que constituem a riqueza da vida? Por onde devem caminhar reflexões e conclusões. Começamos evocando palavras do Papa Francisco durante o Te Deum de 2016: “Criamos uma cultura que, de uma parte, idolatra a juventude, procurando fazer com que ela se eternize e, no entanto, paradoxalmente, condenamos nossos jovens a não terem espaço de real inserção porque gradativamente os fomos marginalizando da vida pública e os obrigando a mendigar ocupações que não existem ou que não permitem que eles venham a se projetar em vista de um amanhã. Privilegiamos a “especulação” em vez de trabalhos dignos e verdadeiros que lhes permitissem serem protagonistas ativos na vida de nossa sociedade. Alimentamos esperanças a seu respeito, exigimos que sejam fermento do futuro, ao mesmo tempo os discriminamos e os condenamos a bater em portas que lhes permanecem fechadas”.
Os jovens são a riqueza da vida. A juventude seria constituída, de maneira mais ampla, por pessoas entre 15 e 34 anos. Que significa ser jovem? Segundo uma certa etimologia digna de confiança a palavra jovem vem do latim iuvare. Jovens seriam aqueles que ajudam, os que sustentam, que auxiliam a sociedade. Nesse período da vida, as pessoas possuem o melhor da força física, da energia reprodutiva, da força intelectiva e espiritual. Um jovem e uma jovem são, pois, extraordinário peso de energia uma verdadeira “célula estaminal”, capaz de ajudar a sociedade.
Não somente isto. Se interrogarmos a língua de Homero sabemos que jovem é indicado por neos que significa literalmente novo, inédito, genuíno. Jovem aponta não somente para força, mas também para o senso do novo, do frescor, do inédito. O que seus olhos divisam nenhum outro olho viu antes. O jovem se explica bem pela imagem do anão que está de pé sobre o ombro do gigante. Devido à sua posição estratégica enxerga mais longe do que o próprio gigante. Essa diversidade de visão é novidade, dilata o horizonte da coletividade. A genuinidade do olhar aponta para genialidade.
Em síntese, pode-se dizer que jovem indica a força de uma novidade e a novidade de uma força, uma condição psicofísica e espiritual que se realiza para cada ser humano somente entre os vinte e trinta anos. O salmo 126 compara os jovens às flechas que um guerreiro tem no alforje: “Os filhos são a herança do Senhor, o fruto do ventre é recompensa. Como flechas nas mãos do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que deles encheu sua aljava! Não serão envergonhados quando discutirem com os inimigos à porta”.
Voltemos agora para as anteriores reflexões do Papa Francisco. Nossa sociedade é fortemente atraída pelo ser jovem, pela cultura do “juvenil”. Os adultos não querem envelhecer. Alimentam uma cultura da imortalidade individualista e míope e literalmente condenaram os jovens – precisamente a riqueza da vida – a permanecerem sempre sentados contentando-se com as migalhas que caem da mesa dos poderosos e procurar bem longe de seu lugar de origem alguma coisa que se revista de dignidade.
O indício mais forte nesse sentido é a presença da geração net. Grande parte da juventude não busca formação ou não é dada formação adequada. Desta forma, os jovens não podem fazer jus ao nome que ostentam: força, novidade, poder criativo, de verdadeiro “acréscimo” de algo, de uma genuinidade, de uma genialidade. Tornam-se células de promessa de amanhã que ficam no congelador.
Fala-se da juventude como uma questão problemática, os jovens seriam “um problema”. É o que se diz. Na verdade, eles constituem riqueza e não um problema. São um “reserva” e não uma questão social. Tudo parece indicar que a razão desta situação paradoxal se deva ao fato de que os adultos são incapazes de reconhecer que a riqueza do jovem seja um bem insubstituível, qualquer coisa de especial, algo “único”. Os adultos, cegos pela cultura da eterna juventude, não conseguem ver o que está diante de seus olhos: a riqueza da verdadeira juventude. O drama da juventude de hoje é ser uma riqueza imensa de energia, de ideias, de abertura para o amanhã, de entusiasmo e continuamente ouvir dizer que são os protagonistas de um futuro que ninguém sabe quando vai começar. Eles não são riqueza do futuro, mas do hoje, deste momento histórico. Os adultos precisam colocar na cabeça: nenhuma experiência acumulada pode ser imposta à força da vida e da renovação da qual temos urgentíssima necessidade.
Umberto Galimberti lançara um grito de alarme há dez anos. Havia afirmado que o crescente niilismo que estava tomando conta da alma dos jovens se devia ao fato de que a sociedade vivia falando da inutilidade do mundo dos jovens. A insignificância sentida pelos jovens os leva a viver à noite e a drogar-se. São considerados como inexistentes, como um problema.
Em Cracóvia, na abertura da última Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco pergunta várias vezes: “As coisas podem mudar?’ Vocês, jovens, respondestes com um fragoroso ‘sim’. Aquele grito nascia do coração de vocês que não suporta mais a injustiça e não quer cultuar a cultura do descartável, nem ceder à globalização da indiferença. Escutem esse grito que sai do mais íntimo de vocês. Mesmo quando vocês lembram a inexperiência de vocês como dizia o profeta Jeremias, devido à sua pouca idade. Deus dá coragem para que vocês caminhem na direção que ele indica. Nada de medo (…). Um mundo melhor haverá de ser construído com vocês, com o desejo que vocês têm de mudar e com sua generosidade (…). Que a Igreja possa colocar-se à escuta da voz de vocês, de sua sensibilidade, de sua fé e até mesmo de suas dúvidas e críticas. Que vocês façam com que seu grito seja ouvido; que ele ressoe na comunidade e seja ouvido pelos pastores!”.
Nota: Estas linhas tiveram com base e referência: Armando Matteo, Giovani, la ricchezza della vita Consecrazione e Servizio 2/2017, p. 39-43