Formação para fraternidade: estudo da regra – artigo 3
Em comunhão com a igreja em tempos de acentuadas mudanças
Texto de Moema Miranda, OFS
- ORAÇÃO INICIAL
Oração cristã com a criação
Nós Vos louvamos, Pai,
com todas as vossas criaturas,
que saíram da vossa mão poderosa.
São vossas e estão repletas da vossa presença
e da vossa ternura.
Louvado sejais!
Filho de Deus, Jesus,
por Vós foram criadas todas as coisas.
Fostes formado no seio materno de Maria,
fizestes-Vos parte desta terra,
e contemplastes este mundo
com olhos humanos.
Hoje estais vivo em cada criatura
com a vossa glória de ressuscitado.
Louvado sejais!
Espírito Santo, que, com a vossa luz,
guiais este mundo para o amor do Pai
e acompanhais o gemido da criação,
Vós viveis também nos nossos corações
a fim de nos impelir para o bem.
Louvado sejais!
Senhor Deus, Uno e Trino,
comunidade estupenda de amor infinito,
ensinai-nos a contemplar-Vos
na beleza do universo,
onde tudo nos fala de Vós.
Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão
por cada ser que criastes.
Dai-nos a graça de nos sentirmos
intimamente unidos
a tudo o que existe.
Deus de amor,
mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
como instrumentos do vosso carinho
por todos os seres desta terra,
porque nem um deles sequer
é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos,
e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor, tomai-nos
sob o vosso poder e a vossa luz,
para proteger cada vida,
para preparar um futuro melhor,
para que venha o vosso Reino
de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
Amém.
(Papa Francisco, Carta Encíclica Laudato Si)
2.CANTO
Louvor das Criaturas do Senhor, Dn 3
Ref. Louvai o Senhor Deus, todos os seus servos (Ap19,5)
-Obras do Senhor, bendizei o Senhor,
Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!(…)
-Lua e sol, bendizei o Senhor!
-Astros e estrelas, bendizei o Senhor!(…)
-Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor!
Brisas e ventos, bendizei o Senhor!(…)
-Fogo e calor, bendizei o Senhor!
-Frio e ardor, bendizei o Senhor!(…)
-Luzes e trevas, bendizei o Senhor!
Raios e nuvens, bendizei o Senhor!(…)
-Ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo
louvemos e exaltemos pelos séculos sem fim! (…)
3. TEMA: EM COMUNHÃO COM A IGREJA EM TEMPOS DE ACENTUADAS MUDANÇAS (Art.3 da Regra da OFS)
A Regra da Ordem Franciscana Secular tem raízes profundas: sua primeira versão data de 1221, inspirada por São Francisco de Assis. Naquele momento, em um tempo como o nosso, de “acentuadas mudanças”, a Igreja era abalada pelo grito e clamor dos pobres, que tinham pouco espaço e expressão em sua vida cotidiana. São Francisco não apenas criou 3 Ordens religiosas, para aqueles que – como frades, irmãs da “santíssima pobreza” ou leigos – quisessem seguir seus passos. Ele inspirou toda a Igreja para um renovado compromisso com o Cristo pobre, crucificado e ressuscitado.
Nossa Regra, já em sua primeira versão, Memoriale Propósiti (Memorial do Propósito), expressa o compromisso dos leigos e leigas franciscanas: vivendo em suas casas, inseridos no mundo secular, devem estar em profunda comunhão com a Igreja, seguindo o Evangelho de Jesus Cristo.
Exatamente por estarmos no mundo, precisamos aprofundar e rever nosso compromisso com a Igreja à luz das mudanças e transformações pelas quais passa este mesmo mundo. Isto é o que faz toda a Igreja. Daí nossa Regra ter, também ela, um caminho de transformações que expressam seus compromissos sempre de maneira renovada. A atual Regra, de 1978, recolhe a grandeza do Concílio Vaticano II, quando as ordens e congregações religiosas foram estimuladas a voltar às raízes de seus carismas. Re-encontrar as raízes francisclareanas é um convite maravilhoso! Sempre! Nos cabe, então, nesta breve reflexão, ampliar nossa percepção de qual é o “tempo do mundo” que vivemos.
Chamados ao exercício evangélico, precisamos reforçar nossos laços e responsabilidades de fazer deste mundo, a “nossa casa comum”! Em tempos de “mudanças acentuadas” e de incertezas temos a tentação de nos alienar, de buscar uma fé desencarnada e uma prática religiosa clerical, protegida nos muros confortáveis das paróquias. Esta não pode ser a atitude dos leigos e leigas franciscanas! Com o Papa Francisco somos chamados a ser “igreja em saída”. O Papa tem nos repetido que prefere uma Igreja suja e maltratada por seu envolvimento nas causas do mundo, do que protegida em suas estreitas paredes. E que causas são estas a que somos chamados a nos envolver? Vivemos em um mundo afetado por uma crise ambiental sem precedentes. O risco de que a espécie humana destrua as condições de vida no planeta são reais. O modo de produção e consumo capitalista, dominante em todo o mundo, utiliza uma quantidade insustentável de matéria e energia do planeta Terra. A utilização exagerada dos bens da criação ameaça a vida, com um aquecimento global inédito. Os cientistas afirmam que entramos na fase do “antropoceno”, ou seja, a espécie humana, por sua forma de vida e consumo, afeta toda a estrutura geológica do planeta. Mas não apenas isto, esta forma de produção distribui injustamente seus supostos benefícios materiais. Com desigualdade crescente, poucas pessoas são excessivamente ricas e muitas, mas muitas mesmo, são extremamente pobres. Para termos uma ideia, hoje apenas 62 indivíduos acumulam mais riqueza do que 3,6 bilhões de pessoas (Relatório Oxfam,)
Neste cenário dramático, a Igreja tem sido uma voz de compromisso e esperança!! Em 24 de maio de 2015, na Solenidade de Pentecostes, no terceiro ano de seu pontificado, o Papa Francisco promulgou em Roma a Carta Encíclica “Laudato Si, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum”! Trata-se de um documento fundamental para que, como leigos e leigas franciscanos, atuemos em comunhão com a Igreja nestes “tempos de acentuadas mudanças”! Profunda e explicitamente inspirada na espiritualidade franciscana, a Encíclica é um guia de leitura da realidade, com propostas claras de ação pastoral.
Agora, a Encíclica precisa torrnar-se realidade em nossa prática pastoral, religiosa e social. Nós, franciscanos, mais do que quaisquer outros, deveríamos, em obediência à nossa Regra, conhecer, usar e atuar de acordo com esta orientação da Igreja.
Destaco aqui apenas um aspecto importante. O Papa alerta para a relevância de uma atuação que seja a só um tempo de defesa dos pobres e de nossa “irmã e mãe Terra”. Lemos no início do documento:
“2. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.”
Como proposta, o Papa nos chama à “conversão ecológica”, implementando a Ecologia Integral, que envolve os aspectos pessoais e místicos, políticos, sociais, econômicos, culturais, enfim uma mudança profunda de vida e visão de mundo que permita respeitar os limites do planeta, ao compreender que somos um com toda a criação. “Tudo está interligado” é a mensagem central que deve orientar nosso ser e estar no mundo neste momento: o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra. Nossa responsabilidade é a de construir junto com a Igreja caminhos de saída. E devemos fazê-lo com grande alegria, com muita fé e esperança!! Assim, nos diz o Papa ao final de seu belo documento, que deve ser também nosso:
“244. Na expectativa da vida eterna, unimo-nos para tomar a nosso cargo esta casa que nos foi confiada, sabendo que aquilo de bom que há nela será assumido na festa do Céu. Juntamente com todas as criaturas, caminhamos nesta terra à procura de Deus, porque, «se o mundo tem um princípio e foi criado, procura quem o criou, procura quem lhe deu início, aquele que é o seu Criador».[172] Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança.”
04- AÇÃO CONCRETA
Nossa proposta é a de nos tornarmos atuantes propagadores da Laudato Si: em nossos locais de moradia, de trabalho, em nossas fraternidades e nossas paróquias. Podemos começar com grupos de estudo, utilizando o abundante material que se encontra disponível em programas de rádio, vídeos, livros e cartilhas (ver indicação abaixo). Em seguida, sigamos as orientações pastorais que se encontram especialmente no Capítulo 5. Teremos um guia para definir em nossos locais de atuação iniciativas muito concretas que nos permitam atuar em comunhão com a Igreja nestes “tempos de mudanças acentuadas”.
05- PARA ENRIQUECIMENTO DO ESTUDO
Para leitura: “Laudato Si, Louvado sejas: sobre o cuidado da casa comum” ,